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A ESCOLA DOS ANNALES

1929 – 1988 (?)


Metodologias da História
Profa. Dra. Ana Paula Squinelo
Curso de História, 1. semestre
ANTECEDENTES
 A Escola dos Annales é um movimento
historiográfico que se desenvolve a partir da
década de 1920;
 Entretanto são as mudanças ocorridas desde o
fim do século XIX que irão permitir que
historiadores se debrucem e pensem em relação a
um novo fazer historiográfico;
 O século XIX foi marcado pela afirmação das
Ciências Sociais: Sociologia, Antropologia,
Geografia que buscam efetivamente o
rompimento com a Filosofia;
ANTECEDENTES
 Estabelecem uma crítica a História TRADICIONAL,
POLÍTICA E HISTORIZANTE.
 Elaboram uma concepção de TEMPO diferenciada;
 Enquanto para a História Tradicional o TEMPO
TRADICIONAL é: ACONTECIMENTAL, DO ÚNICO,
DO SINGULAR E IRREPETÍVEL, LINEAR,
PROGRESSISTA e TELEOLÓGICO.
 Para as CIÊNCIAS SOCIAIS o TEMPO não deve
privilegiar as REGULARIDADES, ESTABILIDADES,
REVERSIBILIDADES (TEMPO DO
ACONTECIMENTO/EVENTO) e, sim a SUCESSÃO,
A MUDANÇA, A ASSIMETRIA...
ANTECEDENTES
 Portanto ocorre uma mudança na concepção em
relação ao Tempo propiciado pelo contexto
histórico de fins do século XIX e XX cuja
sociedade foi marcada por inúmeras
transformações e “derrotas”;
 Cabe então desacelerar o tempo para
compreender as questões se impõe ao longo de
uma duração e não mais de um evento singular...
 A história narrativa, política, centrada em um
evento singular e nas biografias de grandes
homens e feitos já não explicam a complexidade
da sociedade.
ANTECEDENTES
 Nesse sentido a História irá buscar uma
proximidade com as Ciências Sociais e se afasta
cada vez mais da Filosofia e da Filosofia da
História;
 Influências:
1. Émile Durkheim (França) – no campo da
Sociologia;
2. Marx Weber (Alemão) – no campo da
Sociologia;
3. François Simiand (França) – no campo da
Sociologia e Economia;
-- Crítica ao ÍDOLO DO POLÍTICO, DO
INDIVIUAL e DO CRONOLÓGICO.
ANTECEDENTES
4. Henri Berr (Francês) – no campo da Sociologia;
5. Vidal de la Blache (Francês) – no campo da
Geografia Humana;
CRÍTICA COMUM:
1. História Tradicional;
2. Crônica política ou militar;
3. Perspectiva factual;
4. Curta Duração;
5. Biografia;
RESTAVA A HISTÓRIA PORTANTO SE
REPENSAR E SE RENOVAR OU SERIA
“ENGOLIDA” PELAS OUTRAS CIÊNCIAS.
MUDANÇAS OCORRIDAS NA HISTÓRIA
 Mudanças em seu campo de análise:
A história tradicional era um “olhar a partir de cima”:
psicológica, elitista, individual, qualitativa, visava ao
particular, ao individual e ao singular, era
legitimadora, partidária, comemorativa, uma
narrativa justificadora do poder presente.
Os historiadores dos Annales darão ênfase à região “não
acontecimental” da história: ao mundo mais durável,
mais estruturado, mais resistente à mudança, a vida
material econômico-social e da vida mental. Nesse
capo econômico-social-menal, o tempo histórico revela-
se como permanência, constância, resistência,
necessidade social. São ações coletivas,
massivas, repetições dos mesmos gestos eficazes
de produção, distribuição, troca consumo,
comportamentos inconscientes, normas, regras,
símbolos e ordens sociais. (REIS, p. 22)
MUDANÇAS OCORRIDAS NA HISTÓRIA
Mudança no conceito de Fonte Histórica:
A documentação será agora relativa ao campo
econômico-social-mental: é massiva, serial,
relevando o duradouro, a longa duração. Os
documentos referem-se à vida cotidiana das massas
anônimas, à sua vida produtiva, às suas crenças
coletivas. Os documentos não são mais ofícios, cartas,
editais, textos explícitos sobre a intenção do sujeito,
mas listas de preços, de salários, séries de certidões de
batismo, óbito, casamento, nascimento, fontes
notariais, contratos, testamentos, inventários. A
documentação massiva e involuntária é prioritária em
relação aos documentos voluntários e oficiais. Todos
os meios são tentados para se vencer as lacunas
e silêncio das fontes. (REIS, 23)
MUDANÇAS OCORRIDAS NA HISTÓRIA
Inovadora proposta teórica da história-
problema:
E para Langlois e Seignobos “sem documentos não
há história”, para os Annales, “sem problema
não há história”. É o problema e não a
documentação que está na origem da pesquisa,
isto é, sem um sujeito que pesquise, sem o
historiador que procure respostas para questões
bem formuladas, não há documentação e não há
história. É o problema posto que dará a direção
para o acesso e construção do corpus necessário à
verificação das hipóteses que ele terá suscitado. A
história-problema devolve ao historiador a
liberdade na exploração do material empírico.
MUDANÇAS OCORRIDAS NA HISTÓRIA
 O fato histórico não está presente “bruto” na
documentação;
 O historiador não é um colecionador e empilhador
de fatos. Ele é um construtor, recortador, leitor e
intérprete nos processos históricos;
 O fato histórico não é dado é o historiador que a
partir de seu presente que interroga o passado e
constrói os seus fatos e não recebe automática e
passivamente dos documentos;
MUDANÇAS OCORRIDAS NA HISTÓRIA
A história não é mais representada como
um PROGRESSO:
A história não realiza valores transcendentais. Ela
não possui um sentido/direção final antecipável.
O desdobramento do tempo não é uniforme,
linear, heterogêneo.
Há tempos múltiplos, observados nos
processos mesmos e reconstruídos pelo
historiador. As sociedades e cada uma delas
vivem em ritmos distintos e o seu presente não é
centrado, mas uma coexistência tensa de
durações múltiplas.
MUDANÇAS OCORRIDAS NA HISTÓRIA
 Há dois tempos: o real e o pensado, o vivido e o
reconstruído. A pesquisa histórica conduzida por
problemas é uma “reconstrução temporal”, que
polemiza com o passado-presente, mas não chega a
“reconstituí-los” tal como se passaram.
 Há uma outra periodização que agora é temática e
definida pelo problema a ser tratado.
 Há outra relação passado-presente: são diferentes que
dialogam; entre eles, há uma relação de interrogação
recíproca. O presente não continua e nem é superior
ao passado; é “outro”. O método retrospectivo não leva
o historiador à busca de novas “origens”. O historiador
vai do presente ao passado e retorna do passado ao
presente. Passado e presente se determinam
reciprocamente.
FASES DA ESCOLA DOS ANNALES
 PRIMEIRA FASE/GERAÇÃO: 1929/1946
1. Fundada em 1929 por dois historiadores: Marc
Bloch e Lucien Febvre, para promover a história
econômica-social e a interdisciplinaridade das
ciências sociais.
 Lucien Febvre – especialista no século XVI,
expansivo e combativo; Obras:
1. Filipe II e a França-Comté (1911) – História
sociocultural da ascensão da burguesia e
decadência da nobreza, como “um conflito de
idéias e sentimentos tanto quanto conflito
econômico”.
FASES DA ESCOLA DOS ANNALES
2. A terra e a evolução humana (1922) – geografia
histórica onde “não é o ambiente físico que
determina a opção coletiva, mas o homem, sua
maneira de viver, seu comportamento. Um rio
pode ser tratado por uma sociedade como
barreira e por outra como meio de transporte”.
3. O problema da descrença no século XVI: a
religião de Rabelais (1942) – História das
Mentalidades, discute a impossibilidade do
ateísmo no XVI, a partir da personagem
Rabelais.
FASES DA ESCOLA DOS ANNALES
 Marc Bloch – medievalista, sereno, irônico e
lacônico. Obras:
1. Os Reis Taumaturgos (1926) – História de longa
duração, psicologia religiosa, representações
coletivas, História comparativa (busca constatar as
diferenças);
2. As características originais da História Rural
Francesa (1931) – método regressivo;
3. A Sociedade Feudal (1930-1940) – modos de sentir e
pensar (psicologia histórica) da sociedade feudal
(indiferença pelo tempo). Consciência, memória e
representações coletivas.
4. Introdução a História (1949) – “manual” do ofício do
historiador escrito na prisão para iniciantes (seus
alunos).
FASES DA ESCOLA DOS ANNALES
 Criam a Revista Annales d’historia economique et
sociale (Anais de História Econômica e Social) em
15 de janeiro de 1929;
 Contexto: efeitos e traumas a 1. Guerra,
fortalecimento do nazifacismo e crise de 1929;
 A Revista pretendia:
1. Promover intercâmbio intelectual entre
historiadores, antropólogos, sociólogos,
psicólogos, economistas, linguistas...
INTERDISCIPLINARIDADE.
2. Definir com clareza o terreno da História Social;
3. Estabelecer o método no campo das Ciências
Sociais;
PROGRAMA DA ESCOLA DOS ANNALES
 CONTRIBUIÇÕES DE LUCIEN FEBVRE:
1. A História-problema:
- Se opõe ao caráter narrativo da história tradicional.
- Reconhece a impossibilidade de narrar os fatos
históricos “tal qual como se passaram”.
2. O fato histórico como “construção”:
- Passagem do fato histórico “bruto” ao fato histórico
“construído”.
- É o historiador em seu presente que reabre o
passado e constrói os dados necessários, a partir dos
documentos, à prova de suas hipóteses, que
responderiam aos problemas postos, ligados à sua
experiência do presente.
PROGRAMA DA ESCOLA DOS ANNALES
3. O novo conceito de “fonte histórica”:
- Febvre defende a ampliação do arquivo do
historiador.
- A história para ele pode ser feita com todos os
documentos que são vestígio da passagem o homem.
- O historiador tem como tarefa vencer o
esquecimento, preencher os silêncios, recuperar as
palavras, a expressão vencida pelo tempo.
4. A história total ou global:
Duas interpretações:
- Consideração de que TUDO é história, não havendo
mais regiões que seriam interditadas ao historiador.
- Ambição de apreender o TODO de uma época, seria
uma abordagem holística de uma sociedade.
PROGRAMA DA ESCOLA DOS ANNALES
5. A Interdisciplinaridade:
- Aproximação das Ciências Sociais.

- Afasta-se da Filosofia.

- Para a análise do objeto que lhes é comum – o


homem social – história e ciências sociais,
“trocariam serviços”: conceitos, técnicas, dados,
problemas, hipóteses.
- Dessas associações, apareceram ciências
compostas: história econômica, história social,
geo-história, depois, história demográfica,
história antropológica...
PROGRAMA DA ESCOLA DOS ANNALES
 CONTRIBUIÇÕES DE MARC BLOCH:
1. O objeto do conhecimento histórico e a sua
temporalidade:
- Estudo dos homens, das sociedades humanas no
tempo;
- É uma ciência dos homens em sua diversidade;
- São os homens que a história quer apreender;
- Os eventos interessam não por sua
singularidade, mas enquanto elementos de uma
série, enquanto revelam um fundo mais
duradouro de tendências conjunturais e
estruturais.
PROGRAMA DA ESCOLA DOS ANNALES
2. O Método Retrospectivo: a dialética
Presente/ Passado:
- O historiador não deve ser um pesquisador de
origens.
- Para Bloch por um lado o passado explica o
presente, mas por outro o presente não se explica
exclusivamente pelo passado imediato, ele possui
raízes longas e é também um conjunto de
tendências para o futuro é o espaço de uma
iniciativa original.
PROGRAMA DA ESCOLA DOS ANNALES
 Em síntese os Annales se caracterizam por
alguns aspectos:
1. Rejeição da História Política, dos
acontecimentos singulares porque este tipo de
História :
A) Valoriza o documento escrito → e outros
tipos de documentos?
B) Acentua o tempo curto (fato) → e o tempo
longo, o da longa duração?
C) Reconhece os fatos políticos → e os
econômicos, sociais , culturais, mentais?
D) Excessiva preocupação com a objetividade
→ e a subjetividade?
PROGRAMA DA ESCOLA DOS ANNALES
2. Rejeição a História Política – alija estado –
critica o nazifacismo, coletivismo autoritário, a ideia
de progresso, evolucionismo (falência da história
batalha que não soube evitar a barbárie).
3. Interdisciplinaridade – valorização de outras
áreas, suas descobertas e métodos.
4. Mudança da ênfase na base econômica para a
superestrutura cultural – do porão ao sótão.
5. Policentrismo temático: várias áreas de interesse
e pesquisas.
6. Construção de uma História Problema.
7. Novas categorias: estruturas mentais, cotidiano,
gênero...
8. Ampliação do conceito de Fonte Histórica.
9. Nova concepção de Tempo e Homem.
FASES DA ESCOLA DOS ANNALES
 SEGUNDA FASE/GERAÇÃO: 1946-1970
“Annales. Économies, Sociétés, Civilisations”, 1946.
 Expoente: Fernand Braudel; Ernest Labrousse.
 Fernand Braudel: Durante a II Guerra Mundial foi preso e,
sem qualquer material, escreveu de memória a sua tese, que
seria inspirada no contato mais íntimo que tivera com o mar
(Viveu na Argélia de 1923 até 1932), a obra tem como título: O
Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Felipe II;
em que a personagem central não é o rei Filipe II, mas sim o
Mediterrâneo. Tese esta que é escrita a um ritmo frenético, em
sensivelmente um ano: num ano são redigidos milhares de
páginas, que haviam escritas de memória.
- Foi discípulo de Lucien Febvre.
 Características:
- Geo-história braudeliana e as noções de tempo;
- História Estrutural, História Quantitativa e História
Serial;
- Valorização da estrutura;
FASES DA ESCOLA DOS ANNALES
 TERCEIRA FASE/GERAÇÃO: 1970-1989
“Nouvelle Historie – História Nova”

 Expoentes: Jacques Le Goff, Michel Vouvelle, Michel


de Certeau, Marc Ferro, Pierre Nora, Jacques Revel,
François Furet, A. Burguiere, Georges Duby entre
outros.
 Características:
- Recusa a História Global (ocorre a fragmentação);
- Mudança antropológica;
- Retorno da Política;
- Ressurgimento da Narrativa;
- Fragmentação = muito e diversos objetos/
abordagens – História em Migalhas (Françoise
Dosse).
FASES DA ESCOLA DOS ANNALES
 TERCEIRA FASE/GERAÇÃO: 1970-1989
O nome História Nova derivou da obra publicada por
Jacques Le Goff e Pierre Nora:
“Fazer a História”
(década de 1970)
 História: Novos Problemas;
Questão do quantitativo; Retorno do fato; Uso de
conceitos.
 História: Novos Objetos;
Estudo sobre o corpo, linguística, clima, inconsciente, mito,
mentalidade, morte, criança, festa, etc. (substitui os estudos
sobre política, economia e sociedade).
 História: Novas Abordagens;
Subverte os setores tradicionais; Grande importância à
arqueologia; A literatura, a religião, a arte, e outros.
FASES DA ESCOLA DOS ANNALES
Aspectos fundamentais da Nova História: a
ampliação do conceito de documento
histórico e de considerar o conhecimento
histórico como não sendo objetivo e retorno
a narrativa visando o público não
especializado.

 O que une as três gerações?


- A adoção de um ponto de vista das ciências
sociais;
- A prática da interdisciplinaridade;
FASES DA ESCOLA DOS ANNALES
 QUARTA FASE/GERAÇÃO: após 1980 até os
dias atuais
“Annales. Historie, Sciences Sociales”, 1994
aos dias atuais

 Expoentes: Roger Chartier, Jacques Revel,


André Burguière, Bernard Lepetit

 Volta à narrativa;
 Alguns História Cultural, outros História
Econômica...
CRÍTICA A NOVA HISTÓRIA
CIRO FLAMARION CARDOSO
 Abandono do espírito crítico;
 Propõe um certo neopositivismo;
 Com ... e esfacelamento da ciência histórica –
não dá conta da totalidade;
 Espécie de anarquismo cultural;
 ...... resultante de “estéreis jogos de palavras,
dos significantes sem significado;
 Reacionária;
 Anti-marxista – reforçando as ideias do
liberalismo;
 Abandono de sistemas teóricos explicativos em
função de um cientificismo tecnicista que
valoriza mais as técnicas e quantificações que
as questões metodológicas.
CRÍTICA A NOVA HISTÓRIA
CIRO FLAMARION CARDOSO
 Mentalidade como infraestrutura
determinante do social:
 Nega o princípio de causalidade das
relações sociais de produção.
 Longa duração:
 Despolitização da História na medida em
que não considera as rupturas sociais.
 Crise do marxismo que faz parte da crise do
racionalismo ocidental. Foi o que permitiu o
avanço do irracionalismo e reacionarismo
representado pela Nova História.
CRÍTICA A NOVA HISTÓRIA
CIRO FLAMARION CARDOSO
 A questão que se coloca é a da abordagem que se
faz.
 “O problema ideológico não está na escolha do
tema mas na atitude dos investigadores diante
do social e na forma com que abordam estas
questões”.
 Para Ciro F. Cardoso a história nova nega a
cognoscibilidade do todo social, é reacionário e
irracionalista, promove uma história
fragmentada, setorizada, desprovida de
fundamentação teórica, ao mesmo tempo que
combate a história que aspira uma síntese capaz
de abranger e explicar a totalidade histórica.

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