Docente: Ana Ketsia B. M. Pinheiro Aula 6 Julgamento conforme o estado do processo – continuação Extinção do Processo com Julgamento do Mérito (antecipadamente) – NCPC, art. 487
a. Quando o réu reconhecer a procedência do
pedido formulado na ação ou reconvenção (art. 487, III, a) Dá-se quando o réu proclama expressamente que a pretensão do autor é procedente, e é forma de antecipar a solução da lide.
Na realidade, o reconhecimento acarreta o
desaparecimento da própria lide, por não mais haver resistência de uma das partes. Pode se dar a declaração de reconhecimento tanto nos autos (no depoimento pessoal, em petição, nas alegações orais, etc), como em documento à parte, que terá que ser juntado ao processo.
Poderá fazê-lo a parte, pessoalmente, ou através
de procurador.
Se manifestada pelo advogado do réu, depende
sua eficácia de poderes especiais (art. 38). b. Transação das partes (art. 487, III, b) A transação, como regra, produz uma sentença meramente homologatória e somente poderá produzir efeitos nas hipóteses em que for admissível. A transação é inadmissível nos casos de direito indisponível.
c. Quando ocorrer decadência ou prescrição (art.
487, II): Tanto na prescrição quanto na decadência, o direito da parte não pode mais ser exercido e, mesmo que não se refiram à questão principal de mérito, impedirão a apreciação do mérito no processo atual ou em qualquer outro. d. Extinção pela renúncia (art. 487, III, c) Aqui, o autor renuncia ao direito em que se funda a ação. Cabe ressaltar que a renúncia, diferentemente da desistência da ação (que produz efeitos processuais), refere-se diretamente ao direito material – o que leva o Juiz a julgar improcedente a ação. OBS.: Em todos os casos do art. 487, embora nem sempre dê solução própria à lide, é proferida sentença definitiva, com composição do mérito da causa, não obstante limitar-se, às vezes, ao reconhecimento judicial da autocomposição do litígio, obtida pelas partes entre si. Julgamento Antecipado da Lide (NCPC, art. 355)
Tem-se por julgamento antecipado da lide a
hipótese em que o juiz, logo após a fase postulatória, verifica ser possível, de plano, o julgamento da demanda em curso de forma legal, sem necessidade de dilação probatória, ante a existência de requisitos legalmente previstos, ou seja, o juiz examinará o pedido e proferirá sentença contendo sua própria solução para a lide, sem passar pela audiência de instrução de julgamento. Hipóteses em que se mostram presentes os requisitos para julgamento antecipado da lide:
a. Quando não houver necessidade de produção
de outras provas (o julgamento for exclusivamente de direito) Ocorre o julgamento nesse caso quando as partes não divergem quanto aos fatos, mas somente quanto aos fundamentos jurídicos, sendo a demanda julgada somente na matéria de direito.
Veja o julgado a seguir:
AG.REG. NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA ACO 819/SE (STF) - Publicação: 02/12/2011. Ementa: EMENTA AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO QUE RECONHEU A INEXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO DE RECOLHIMENTO DO IPVA. IMUNIDADE RECÍPROCA. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS (ECT). JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. MATÉRIA EXCLUSIVAMENTE DE DIREITO. AUSÊNCIA DE NULIDADE. PRECLUSÃO. NÃO PROVIMENTO DO AGRAVO. 1. Conjugando a regra do julgamento antecipado da lide com o procedimento contido no Regimento Interno desta Corte, não há prejuízo nem nulidade em despacho que dispensa produção de provas, determinando diretamente a oitiva da Procuradoria- Geral da República, sem a apresentação de razões finais pelas partes, porque lícito o julgamento antecipado quando se trata de matéria exclusivamente de direito. Como não houve instrução probatória no curso do processo, haja vista que foram bastantes para a formação do convencimento do magistrado as provas trazidas na inicial e a na contestação, restou desnecessária a apresentação de razões finais. 2. A ausência de intimação do réu do conteúdo do despacho saneador foi suprida pela concessão de vista ao Procurador do Estado do Sergipe, ocasião em que o agravante deveria, sob pena de preclusão, ter alegado seu descontentamento (art. 245 , caput, do CPC ), e não tardiamente em sede de agravo regimental contra a decisão de mérito. 3. A concessão de imunidade tributária à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é matéria que resta amplamente difundida nesta Corte, entendimento esse que foi reafirmado na ACO nº 789/PI , ocasião em que restou assentada a presença da regra de imunidade recíproca a afastar a incidência do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) sobre os veículos de propriedade da agravada, independentemente da natureza da atividade desempenhada, se serviço público ou atividade de cunho privado. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. b. Quando réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349. O não cabimento de dilação probatória pode estar baseado em dois fundamentos: ou o Juiz formou sua convicção ou não pode fazer a dilação probatória.
A ocorrência da revelia somente acarretará o
julgamento antecipado da lide quando forem imputados os efeitos da revelia relevante, em especial a presunção da verdade. Em todas as situações arroladas no art. 355, o juiz, logo após o encerramento da fase postulatória, já se encontra em condições de decidir sobre o mérito da causa, pois: a. não há prova a produzir, se a questão controvertida é apenas de direito, por absoluta irrelevância ou mesmo por falta de objeto, pois a prova, habitualmente, se refere a fatos e não a direitos; b. no outro caso também não se realiza a audiência das partes por desnecessidade de outras provas, além daquelas que já se encontram nos autos, ou porque ocorreu revelia relevante. Exemplos: i. se a questão de fato gira em torno apenas de interpretação de documentos já produzidos pelas partes; ii. se não há requerimento de provas orais; iii. se os fatos arrolados pelas partes são incontroversos; e, ainda, iv. se não houve contestação, o que leva à incontrovérsia dos fatos da inicial e à sua admissão como verdadeiros (NCPC, art. 344); o juiz não pode promover a audiência de instrução e julgamento (AIJ), porque estaria determinando a realização de ato inútil e prejudicial à celeridade processual. Observe-se que o NCPC, art. 374 expressamente dispõe que não dependem de prova os fatos “admitidos no processo como incontroversos” e aqueles “em cujo favor milita a presunção legal de existência ou de veracidade”.
Características do julgamento antecipado
da lide O julgamento antecipado da lide possui algumas características específicas, são elas: para que o Juiz julgue antecipadamente a lide, a situação concreta deve estar enquadrada nos casos dispostos em lei. Não há uma completa liberdade do Juiz, devendo a decisão sempre ser motivada;
Nas hipóteses em que ocorre o julgamento
antecipado da lide, em regra não há audiência de tentativa de conciliação.
O NCPC (art. 139, V) permite que o julgador
convoque as partes para uma tentativa de conciliação, entretanto essa audiência não será obrigatória; No caso de julgamento antecipado da lide, não há apresentação de alegações finais, cuja finalidade é garantir uma última análise a respeito da dilação probatória, ou seja, as partes deverão se manifestar acerca das provas apresentadas.
Então, se não há dilação probatória, não há
necessidade de apresentação de alegações finais; Atenção! Pela sistemática do CPC/73, no julgamento antecipado da lide, não se permite cisão (fracionamento) do julgamento, ou seja, o Juiz não poderá proferir duas decisões (ex.: no caso de cumulação de pedidos, o Juiz não pode julgar antecipadamente um dos pedidos e determinar a dilação probatória para o outro pedido, proferindo uma segunda sentença). Todavia, o CPC/2015 passou a prever expressamente essa possibilidade, que consiste no chamado “Julgamento Antecipado Parcial do Mérito” DO JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO
Seção I - Da Extinção do Processo
Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas
nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o juiz proferirá sentença. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento. Seção II - Do Julgamento Antecipado do Mérito Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando: I - não houver necessidade de produção de outras provas; II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349.
Seção III -Do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355. § 1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. § 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto. § 3o Na hipótese do § 2o, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva. § 4o A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz. § 5o A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.
Seção IV - Do Saneamento e da Organização do
Processo Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo: I - resolver as questões processuais pendentes, se houver; II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos; III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373; IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito; V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento. § 1o Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável. § 2o As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das questões de fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz. § 3o Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações. § 4o Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de testemunhas. § 5o Na hipótese do § 3o, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de testemunhas. § 6o O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato. § 7o O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados. § 8o Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz deve observar o disposto no art. 465 e, se possível, estabelecer, desde logo, calendário para sua realização. § 9o As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as audiências. • Não ocorrendo a conciliação, o juiz, antes da audiência de instrução e julgamento, organizará o feito de molde a evitar discussões desnecessárias, que frequentemente implicam na protelação do julgamento do processo de conhecimento, definindo os limites dentro dos quais o feito deverá ser examinado. • Percebe-se que o legislador teve em mira agilizar o procedimento, propiciando aos litigantes a autocomposição e, à falta de conciliação, devido a intransigência das partes, a fixação, de modo objetivo, das questões sobre as quais incidirá a atividade probatória, libertando-o de qualquer discussão impertinente e irrelevante para o seu desfecho, estreitando, assim, os limites do debate e do julgamento como convém ao processo civil moderno. • Após a efetivação desse ato (fixação das questões), o magistrado reunirá condições para deferir as provas úteis e indeferir as incabíveis.
• Deferida a produção de provas orais, é necessária
a designação de audiência de instrução e julgamento.
• Caso a prova deferida seja apenas documental ou
pericial, não haverá, em princípio, necessidade de designar-se audiência de instrução, salvo para eventuais esclarecimentos do perito ou tomada de depoimento pessoal das partes. A Audiência Preliminar e o saneamento do feito
Atualmente, como ato integrante e imprescindível
do procedimento ordinário, o saneamento deverá ser pronunciado oralmente, durante a realização da audiência preliminar, sob pena de nulidade do processo, em vez de consubstanciar-se num ato escrito do juiz, conforme era anteriormente estabelecido na legislação. Cândido Rangel Dinamarco leciona que "Um dos significados da remodelação do art. 331 do Código de Processo Civil foi a modificação no modo como se saneia o processo. Saneá-lo ainda agora por escrito nos autos, como antes se fazia, seria violar essa regra de ordem pública instituidora da audiência preliminar. Inexiste, no direito positivo brasileiro vigente, o saneamento mediante pronunciamento escrito nos autos, fora de audiência" Atenção!
Como visto, a “Audiência Preliminar” possui grande
importância, pois serve para organizar o processo, permitindo que este avance para a fase instrutória.
Misael Montenegro explica que o Novo CPC aboliu a
referida audiência, estipulando que o juiz deve sanear o processo em seu gabinete, sem a presença dos advogados e das partes, fazendo sozinho o que hoje é feito em conjunto com partes e advogados, na audiência preliminar.