You are on page 1of 34

A Colonização portuguesa na América

A colonização europeia ocorrida na América, de uma forma geral,


tinha características gerais que se enquadravam no contexto da
expansão comercial da Europa. O Mercantilismo, a busca por
metais preciosos, o comércio de longa distância se inseriam num
quadro de acumulação primitiva de capital num período que
podemos determinar como de transição do Feudalismo para o
Capitalismo. Nesses termos temos várias teorias explicativas para
se entender a colonização portuguesa na América, vista de uma
forma generalizada, ou seja, em suas características gerais.
Caio Prado Jr.
“O Sentido da Colonização”

*o sentido da colonizaçãopara Caio Prado se relaciona diretamente a


forma como se organizava a produção na colônia, o que este autor
chamou de ‘plantation’ que tinha três características básicas: a
grande propriedade, a monocultura exportadora e a mão-de-obra
escrava;

*a plantation seria um desdobramento da expansão comercial


europeia, que tinha como objetivo principal a produção para o
mercado europeu visando o enriquecimento da metrópole. Dessa
forma o colono português tinha a oportunidade de enriquecimento
também;
*a grande propriedade seria necessária por estar a colônia destinada a
produzir para o enriquecimento da metrópole, e também por ser em
grandes extensões de terra que se possibilitaria a grande produção voltada
para o mercado externo (não podemos esquecer que havia grande oferta
de terras a serem exploradas, o que usualmente se diz como ‘fronteira
aberta’);

*todos os esforços se destinariam para o produto principal da economia


colonial que se destinaria para o mercado externo sob o rígido controle do
‘exclusivo metropolitano’, ou seja, toda a produção era monopólio da
metrópole. Era necessário então que se concentrassem as atenções em um
único produto que seria a base da economia;
*a escravidão teria várias justificativas, que iam desde a escassez
da população portuguesa disponível para se aproveitar como
mão-de-obra, até a dificuldade de se adaptar o indígena ao
trabalho necessário na colônia. No entanto o mais importante
argumento se encaixa perfeitamente no contexto do período: o
tráfico transatlântico de escravos negros africanos traria mais
uma opção de comércio e que se tornou um dos mais lucrativos
no período da colonização dos séculos XV/XIX;
Fernando Antônio Novais
“A Teoria Circulacionista”

*para esse autor a expansão comercial estava inserida no


contexto da transição do Feudalismo para o Capitalismo, o que
caracterizaria o período de acumulação primitiva de capitais.
Nesse contexto temos também o absolutismo, a sociedade
estamental, o capitalismo comercial, a política mercantilista, a
expansão ultramarina e colonial, como partes de um todo;

*acumulação de capitais voltada para enriquecimento da


burguesia metropolitana (burguesia mercantil). É essa
acumulação que vai originar o empresariado;
*a expansão crescente demanda um maior
mercado consumidor (que virá com a
Revolução Industrial);

*o exclusivo colonial é encarado como


reserva de mercado das colônias para a
metrópole. Se desdobra em concentração
de renda e de riqueza;
*a exploração colonial se esquematiza em comprar
no preço mais baixo possível na colônia (quase a
custo de produção) para venda com exclusividade na
Europa; ocorre a revenda na colônia no mais alto
preço possível (de forma que não inviabilize o
funcionamento da economia colonial) o que ocasiona
transferência da renda da colônia para a metrópole e
a concentração da renda para a camada burguesa
ligada ao comércio ultramarino;
*a escravidão explicaria a concentração de renda
também, visto que o escravo é ao mesmo tempo,
mão-de-obra e mercadoria, não podendo ser por isso
consumidor (pela ausência de salários). Concordando
com Caio Prado Jr., Novais entende que o tráfico seria
também um novo setor do comércio colonial cujos
ganhos fluiriam para a metrópole;

*Teoria circulacionista: a circulação (pelo comércio


europeu ou pela acumulação primitiva de capitais) é
que determina a estrutura da produção colonial;
Jacob Gorender

‘Os fatores internos’

*são os fatores internos da economia colonial


que determinam a escravidão. As condições
de produção que existem na colônia é que
exigem a implantação do trabalho escravo;
DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA
COLONIAL
Caio Prado Jr.
*ao final de três séculos a estrutura econômica e social permanecia essencialmente a mesma
que foi estabelecida no início da colonização;

Roberto Simonsen
*por meio de um processo cíclico (esgotada a possibilidade de um produto, retoma-se o
processo de desenvolvimento), os vários produtos coloniais se sucederam no desenvolvimento
colonial;
*três séculos sem expressivas mudanças na estrutura colonial;

Fernando Novais
*a colônia como objetivo da acumulação primitiva tem seu excedente transferido para a
metrópole através do exclusivo metropolitano. Com essas características temos então a
concentração de renda para os colonos-senhores, e a escravidão cumpre o seu papel de
também auxiliar, juntamente com o exclusivo metropolitano, nessa concentração;
*a economia colonial, escravista e mercantil é uma economia predatória;
Celso Furtado

*a economia colonial apresenta-se de baixa


produtividade, pois cresce extensivamente (por
agregação de novas unidades) não investindo em
escala crescente (só repõe e agrega);

*a expansão do mercado produz um crescimento


extensivo (mais terra, mais mão-de-obra), com
abundância de terra e custo relativamente baixo do
escravo;
*a retração do mercado produz um declínio dos preços do produto
colonial. Trabalho escravo com custo monetário praticamente nulo,
produzindo o que necessitam para a subsistência e também os insumos
necessários para a unidade produtiva. Para qualquer quantidade
produzida o custo monetário é o mesmo, portanto, convém manter a
produção sempre alta para obter o maior lucro possível;

*a renda gerada pelas exportações concentra-se nas mãos dos senhores,


sendo o dispêndio realizado no mercado interno (como compra de gado,
por exemplo) menor do que o valor das exportações. Portanto a renda
monetária interna é menor do que o valor das exportações. Essa renda
tende a transformar-se em importações, mas não excederá o valor das
exportações, não havendo portanto desequilíbrio externo.
Jacob Gorender

*a escravidão limitou o progresso técnico


pela própria natureza da relação escravista.
Assistimos ainda no século XIX a economia
brasileira voltada para o mercado externo,
fundada na grande propriedade
monocultora e na escravidão;
NOVAIS, Fernando Antônio. In: MOTTA, Carlos
Guilherme (org.). Brasil em perspectiva. 7 ed., SP: DIFEL,
1984. P. 58-9.

“A economia colonial, quando encarada no contexto da


economia européia de que faz parte, que é o seu centro
dinâmico, aparece como altamente especializada. E isto
mais uma vez se enquadra nos interesses do
capitalismo comercial que gerou a colonização:
concentrando os fatores na produção de alguns poucos
produtos comerciáveis na Europa, as áreas coloniais se
constituem ao mesmo tempo em outros tantos centros
consumidores dos produtos europeus. Assim se
estabelecem os dois lados da apropriação de lucros
monopolistas (...)”.
“Mas não só na alocação dos fatores produtivos, na
elaboração de alguns produtos ao mercado consumidor
europeu se revela a dependência da economia colonial face
ao seu centro dinâmico. O sistema colonial determinará
também o modo de sua produção. A maneira de se produzir
os produtos coloniais fica, também, necessariamente,
subordinada ao sentido geral do sistema; isto é, a produção se
devia organizar de modo a possibilitar aos empresários
metropolitanos ampla margem de lucratividade. Ora, isto
impunha a implantação, nas áreas coloniais, de regimes de
trabalho necessariamente compulsórios, semi-servis ou
propriamente escravistas.”
“De fato, a possibilidade de utilização do trabalho
livre, na realidade mais produtivo e, pois, mais
rentável em economia de mercado, ficava
bloqueada na situação colonial pela abundância do
fator terra; seria impossível impedir que os
trabalhadores assalariados optassem pela
alternativa de se apropriarem de uma gleba,
desenvolvendo atividades de subsistência.”
“Disto resultaria, obviamente, não uma
produção vinculada ao mercado do centro
dinâmico metropolitano, mas simplesmente a
transferência de parte da população européia
para áreas ultramarinas, e a constituição de
núcleos autárcicos ou quase autárcicos de
economia de subsistência, em absoluta
contradição com as necessidades e estímulos da
economia européia em expansão.”
“É em função dessas determinações que
renasce, na época moderna, no mundo
colonial, a escravidão e toda uma gama de
formas servis e semi-servis de relações de
trabalho, precisamente quando na Europa
tende a se consolidar a evolução no sentido
contrário, isto é, da difusão cada vez maior do
regime assalariado”.
Colônia de exploração e colônia de
povoamento;
A economia colonial na América Portuguesa
é caracterizada por latifúndio monocultor,
escravista e dependente do mercado externo
– “plantation”;
Funcionava sob a rigidez do pacto colonial:
proibição de manufaturas em território
colonial, restando a exportação de produtos
primários;
Açúcar:
Experiência anterior dos portugueses: Cabo
Verde, Açores e Madeira;
Condições naturais da colônia: no Nordeste,
clima quente e úmido e solo de massapê;
Grande procura no mercado europeu;
Trazido em 1530 pela expedição de Martim
Afonso de Souza, atrai portugueses, que vão
se constituir, muitos deles em senhores de
engenho;
Necessidade de grandes investimentos: colonos, mudas,
instrumentos, engenhos, etc.;
Onde buscar esse capital?  Comerciantes judeus vão para os
países baixos fugindo da intolerância religiosa/ fortalecem esses
países; mesmos que financiaram as grandes navegações;
O capital vem da Holanda que fica responsável por transportar,
refinar, distribuir e divulgar o açúcar na Europa;
Esse produto alcança grande importância nos séculos XVI e XVII,
sobretudo no litoral nordestino;
Portugal se beneficia com o povoamento da terra, garantindo a
posse, e com a cobrança de impostos devido ao pacto colonial;
Sociedade formada basicamente por senhores de engenho(elite
colonial), homens livres pobres(minoria), clero, administração e
escravos(principal mão-de-obra);
Êxito da lavoura açucareira é resultado dos altos
preços do açúcar no mercado externo, quadro natural
favorável ao cultivo, presença da mão-de-obra
africana, além da participação do capital holandês;
Declínio da economia açucareira está associado à
saída dos holandeses do Brasil, em 1654, a
concorrência externa (do açúcar flamengo das
Antilhas) e ao progressivo deslocamento do eixo
econômico da Colônia para o Brasil-central, desde
fins do século XVII, com a descoberta do ouro;
Pecuária:
Gado bovino é introduzido na Colônia, com a chegada
do primeiro Governador
Geral, sendo originária das Ilhas de Cabo Verde e
Açores;
Inicialmente no litoral nordestino, para sustento dos
engenhos;
Posteriormente deslocado para o interior (sertão) do
Nordeste, por força da Carta Régia de 1701, devido
aos atritos por terras envolvendo plantadores de cana
e criadores de gado;
Importância constatada de várias formas;
1)atração da população para o interior, contribuindo
para um maior equilíbrio demográfico na Colônia;

2)base para as atividades principais da economia


colonial – açucareira e mineradora – pelo
fornecimento de alimento, transporte e força motriz;
3)indígena melhor adaptado a essa atividade nômade que
não utilizava mão-de-obra escrava – os vaqueiros em geral
são indígenas livres e remunerados em espécie;

4)desbravamento e integração das regiões Nordeste, Centro


e Sul da Colônia;

5)exceção ao caráter exportador da economia colonial, pois


não há exportação para a metrópole ( a pecuária é
importante para a sustentação de outras economias
internas e não interessa a Portugal, que já possui gado
bovino);
Crise do Sistema Colonial e Independência
Política

CONTEXTO INTERNACIONAL

Acumulação primitiva de capital X Revolução Industrial


Independência dos Estados Unidos (primeira derrota
do colonialismo)
Mercantilismo X capitalismo
Trabalho assalariado X mão-de-obra escrava
Vinda da Família Real para o Brasil
Constituição do Estado Nacional brasileiro
CONTEXTO BRASILEIRO
Gastos com aparelhamento administrativo para formação do Estado;
Despesas militares para consolidação da independência;
Indenização para Portugal pela independência (assume dívidas portuguesas
com a Inglaterra);
Reduzida capacidade de arrecadação (quase que somente tarifas sobre
importações);
Nacionalização da apropriação do excedente e internalização das decisões de
investir (João Manoel Cardoso de Mello);
Fortalecimento de uma burguesia mercantil interna com o café (João Manoel
Cardoso de Mello);
Falta da industrialização: falta de política protecionista, de mercado interno,
capitais, divisas para importação de máquinas e matérias-primas e classe
dirigente capaz de promover um projeto industrializante (Simonsen);
Maior parte da população era escrava (o que ocasionava um mercado interno
restrito);
Classe dominante formada por grandes proprietários de terras e de escravos;
MERCADO INTERNO
Amaral Lapa procurou agregar a idéia de
um “mercado interno” na colônia ao
conceito de sistema colonial. Em sua
leitura, mercado interno se referia a um ou
mais sistemas de trocas formados ao longo
dos séculos XVI, XVII e XVIII; este mercado
possuiria oscilações internas, relacionadas
direta ou indiretamente com os mercados
externos
Os setores não diretamente ligados às
atividades exportadoras apresentavam grande
diversidade, sendo impossível colocá-los sob a
camisa-de-força derivada do Sentido da
Colonização. Ao participarem tanto da
constituição como do suprimento de um
mercado interno colonial, podiam, nas suas
vertentes de caráter mais marcadamente
comercial, proporcionar acumulações
endógenas à colônia, atribuindo-lhe relativa
autonomia em relação às flutuações do
mercado internacional.
Conhecer a organização do comércio interno, a
articulação ou simples desdobramentos entre
produtores e comerciantes, o financiamento e
lucros, as firmas comerciais e manufatureiras, as
unidades de produção agrícola, o transporte e os
atravessadores, a estocagem e perecimento dos
produtos, as crises e reações do mercado, a
distribuição e equilíbrio, a especulação do preços é
o que nos falta. (...) Assim, é que não podemos
perder de vista o nosso processo histórico, no qual a
mercantilização da economia de subsistência e o
abastecimento sempre tiveram um espaço próprio.
Economia nordestina => açúcar,
algodão, gado e fumo, além de
alimentos
Amazônica => coleta, extrativismo e
coleta das drogas do sertão.
madeiras, resinas, fibras, caça e
pesca etc. trabalho principalmente
indígena, explorado por ordens
religiosas
Extremo sul => produção de
mercado interno com pequena
participação do trabalho escravo;
agricultura familiar com pequenas e
médias propriedades
Minas gerais => mineração com
trabalho escravo, com estrutura
produtiva diversificada – atividades
manufatureiras, mercantis,
administrativas e agropecuárias

You might also like