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Universidade Federal de Rio

Grande
Escola de Música
Disciplina:

Violão brasileiro na primeira metade século XX

Aluno: Ailson Vitor Ferreira de Medeiros


Breve História do Violão
• No século XVI destacava-se a ascensão da música instrumental europeia. Embora o
instrumento mais utilizado fosse o alaúde (de origem árabe), a Espanha optou pela
vihuela (poderíamos dizer uma versão luxuosa do violão?) em oposição aos seus
invasores.

• A partir do século XVII os italianos passariam a adotar a guitarra, e, em seguida,


espalhou-se por toda a Europa.

• Na segunda metade do século XX, o povo adotou a guitarra (que futuramente no


Brasil foi batizada de violão), um instrumento mais simples e de fácil manuseio para
acompanhar canções.
A Origem

No Brasil desde o período da Colônia podemos afirmar que o violão (que veio
através dos Jesuítas) foi essencialmente um instrumento de acompanhamento
das danças populares, modinhas e serenatas

O violão no Brasil somente a partir do século XX que


foi reconhecido como instrumento popular por
excelência, ou seja, a partir desse período que passou
a ter papel como instrumento solista.

(Bartoloni, 2000)
Incapacidade artística do Violão
“O violão esteve presente na sociedade brasileira, tanto nos
círculos da elite quanto nas manifestações das camadas
mais populares. Assumiu lugar único, enquanto meio de
execução e corporificação de representações sociais,
constituindo-se num ponto de partida privilegiado para
investigar a particular dinâmica assumida pela cultura
musical no Rio de Janeiro de fins do século XIX às primeiras
décadas do século XX. (TABORDA, cap. 4 — grifo nosso).”
Devido a sua origem e a soma de diversos fatores:

- A associação à vadiagem e à boemia, um instrumento-documento, violentamente empobrecido;

- Arquetípico das seresteiras “orquestras de pobre”, precariamente empregado (ninguém vivia da música e
muito menos tocando violão);

- No amadorismo com que se aprendia e executava. Escassa ou nula instrução formal (não havia onde
aprender a tocar) e principalmente autodidata (aprendido na prática e na tradição ora).

 Estas condições teriam dificultado sua mobilidade social e, consequentemente, o da parcela da população que
ele representava.
“O reconhecimento do violão como instrumento popular por excelência, não
apenas pelo desempenho enquanto suporte harmônico dos gêneros da música
típica, mas pela associação às camadas desfavorecidas da sociedade, foi o mote
para sustentação do discurso erigido a partir de princípios do século XX, no qual,
uma vez que essencialmente popular, o violão deveria ser banido dos
círculos onde a verdadeira arte seria praticada . (TABORDA, 2011, pp.
196).”

Como se o instrumento tivesse uma “vida


pública” e uma “vida privada”: a de um “violão-
arte” que almeja se alinhar aos postulados de
um ensino musical europeu de séc. XIX, avesso
ao “violão-povo”, sempre vigiado pela missão
moralista das belas artes.
O violão brasileiro sempre foi uma
arte
O violão na virada do século é permeado por diversos eventos próprios da vida
moderna que expandiram as atividades poéticas e musicais, “fosse no mercado
editorial, no mercado mais amplo de diversões que incluía os circos, teatros e festas da
capital federal, fosse, ainda, no incipiente mercado fonográfico”.

A produção de discos e a chegada do rádio, nas primeiras décadas do século XX, surge
uma relação de poder ímpar na socialização da música

 aparece a figura do ouvinte consumidor


ao legado oscilante entre o erudito e o popular (tradicional e/ou folclórico).
No ano de 1916, o violonista Américo Jacomino (1889-1928), apelidado Canhoto,
estreia nos palcos do Teatro Municipal e do Conservatório Dramático e Musical de
São Paulo, ambos lugares consagrados à cultura musical da elite paulistana da
época.

Chamado de “Rei do violão brasileiro”, “o aplaudido violonista da Casa Édison”.


está entre os primeiros a sintetizar o gosto da população da época pelo violão
seresteiro, em particular a valsa.

Embora autodidata, Canhoto guardava afinidades com o violão “tarreguiano” no


sentido em que este “não tinha um perfil muito diferente do repertório praticado aqui
(pequenas peças românticas, música de salão e transcrições)”.
Em 1917, destaca-se a passagem de Josefina Robledo (1892-1972), “que possuía a
credencial de ter sido aluna de Francisco Tárrega (1852-1909), grande nome da
música espanhola, que viria a estabelecer os fundamentos da escola moderna”.

“Realisa-se esta noite, no Conservatorio Dramatico, o annunciado


concêrto desta notavel artista, com a cooperação do distincto violinista
sr. Fernando molina. Vae o nosso publico travar conhecimento com
uma senhora em cujas mãos o violão attinge a mesma hierarchia da
harpa, do piano e do violoncello, dizendo pelas suas cordas a musica
dos grandes mestres e produzindo uma suavidade de sons que deleita
os assistentes. A sra. Robledo é, com effeito, um temperamento
impressionavel, que allia á delicadeza da execução um sentido de
interpretação desenvolvidissimo”. (sic. — grifo nosso).
Catulo de Paixão Cearense

Agustín Barrios

Américo Jacomino

Josefina Robledo
Pioneiros do Violão Brasileiro

Paraguassú (1894-1976)

Garoto
(1915-1955)
Canhoto
1889-1928

Armandinho (1902-1976)
Dilermando Reis (1916-1977)
Américo Jacomino (“Canhoto”)
• O primeiro violonista paulistano a se destacar no
cenário musical brasileiro
• Praticamente autodidata, era chamado de Canhoto,
pelo fato de tocar o instrumento invertido, na
posição própria a um canhoto, mas sem inverter as
cordas do violão.
1889-1928
Feitos
• Apresentação no Conservatório Dramático e
Musical de São Paulo
• Como compositor, explorou vários gêneros
musicais nacionais como choros, maxixes e
Canhoto aos vinte e um anos de
valsas, além de gêneros estrangeiros como idade, ocasião em que se exibia
tangos argentinos e milongas. com o cantor Paraguassú em
espetáculos de cinema, teatros,
circos e cafés.
Mas seu maior sucesso, talvez o maior de todos os
tempos, veio em 1925: “Abismo de Rosas”
• Em 1918 : Primeiro
sucesso, “Nhá Maruca
foi s’embora”
• Em 1922: “Triste
Carnaval”
Garoto (Aníbal Augusto Sardinha)
• Aos dezesseis tocava vários instrumentos da
família do violão
• Passou a maior parte da sua vida tocando
violão como acompanhamente.
• Atuou em diversas emissoras de rádio.
• No final de 1938, partiu para os Estados
Unidos (“A caminho dos EUA”)
Paulista de Guaratinguetá, era
filho de imigrantes portugueses
• Em 1940, tocou na Casa Branca
para o presidente Franklin
Roosevelt.
• Gravou setenta e duas músicas (72)
• Ao contrario de Canhoto, Garoto
gravou somente sete valsas. O
gênero mais gravado foi justamente
o choro, com vinte e quatro
gravações.
• Garoto foi muito mais intérprete de
outros compositores, nas Fez questão de carregar
gravações, do que autor de suas seu próprio nome na
excursão pelos Estados
próprias música Unidos.
Seu Legado
• Alcançou grande êxito como compositor e instrumentista, inovando e
influenciando seus contemporâneos no campo da harmonia
instrumental e firmando-se como um dos precursores da Bossa Nova.
• Na composição, inovava com seus acordes dissonantes e escalas de
tons inteiros.
• Foi um músico precoce e lamentavelmente morreu jovem, vítima de
problemas cardíacos.
Dilermando Reis
(1916-1977)

“... violonistas só eram


procurados para fazer
acompanhamento. Havia
preconceitos e ninguém
acreditava que fosse
possível solar com sucesso
ao violão”.
Dilermando Reis em
entrevista publicada em
Violões e Mestres (Rio de
• Popularizou no país a música instrumental para o Janeiro), n. 4, p. 15, 1965.
violão. Conseguiu impor um “violão solista” na
época dos cantores.
• Deu aulas a o ex-presidente Juscelino Kubitschek
Gravações

• Além de discos 78 RPM, lançou também mais de trinta LPs,


alcançando grande sucesso com várias composições suas além de
reeditar outros sucessos como a valsa “Abismo de Rosas” de Canhoto
que erroneamente o jornal “Notícias Populares” de 04 de janeiro de
1977, na ocasião de sua morte, anunciou como sendo de sua autoria
Obras
• Produziu ao todo setenta e uma gravações em discos 78 RPM.
• Podemos identificar na pessoa de Dilermando Reis o auge do
desenvolvimento do repertório para violão solo em sua época.
• Podemos destacar grandes sucessos até os dias de hoje como “Dr.
Sabe Tudo” “Dois Destinos”, “Uma valsa e Dois Amores” e “Se ela
Perguntar” além de imortalizar obras como “Sons de Carrilhões” de
João Pernambuco.
Referências Bibliográficas
• Bartoloni, 2000. Violão: a imagem que fez escola. São Paulo 1900-
1960.
Obrigado

Desenhos de Raúl Paderneiras, em Cenas da


Vida Carioca, de 1924. (NERY, 2000, pp. 156).
Em que bairros o violão brasileiro sempre foi
uma arte?

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