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1º semestre de 2013 (Carlos Alberto e Gabrielle Francinne)

Fundamentos da Ciência da Informação

Unidade 2. Constituição do campo da Ciência


da Informação
Antecedentes da C.I

• A Documentação pode ser vista como antecessora


da C.I. E a Documentação tem suas raízes na
Bibliografia especializada, que é tão antiga
quanto a Biblioteconomia.

• A Biblioteconomia tem sua origem associada às


bibliotecas, que remontam à Antiguidade. A
Bibliografia e a Biblioteconomia constituíram a
mesma unidade durante séculos, pois tinham como
objetivo a organização bibliográfica (SHERA;
EGAN, 1961).
O homem e seus registros
Biblioteca de
Alexandria, III
A.C
• Século XV com a imprensa, a acumulação de
materiais pelas bibliotecas passou a exigir um
mais critérios de seleção e organização;

• Crescimento de materiais levou a atividade de


compilação de bibliografias especializadas, como
as de Tritheim e Gesner (século XV);
• As bibliotecas passaram a depender cada vez mais de
instrumentos de organização, como as bibliografias para
aquisição e sistemas de organização, que afloram no
século XIX: Panizzi, em 1841, e, de Jewett, em 1852 e a
mais importante, a CDD, de 1876.

• Classificação Decimal de Dewey, organiza o


conhecimento em 10 grandes classes: 000 generalidades,
100 filosofia, 200 religião, 300 ciências sociais, 400
línguas, 500 ciências puras, 600 ciências aplicadas, 700
artes, 800 literatura, 900 história e geografia.

• sistema hierárquico: 020 Library & information


sciences; 025 Library operations; 060 Associations,
organizations & museums; 069 Museum science
• Séc XIX: os bibliotecários assumem a preocupação com
a democratização da cultura, educação de massa,
privilegiando as bcas públicas, em vez da organização
cada de assuntos cada vez mais especializado;

• Na bca os materiais eram tratados como unidades,


baseados nos livros, e não no assunto. As técnicas de
org. estavam obsoletas para o tratamento dos periódicos,
que adquirem maior relevância;

• A própria organização estrutural das bibliotecas como


unidades autônomas, locais e dificuldades financeiras e
de pessoal eram entraves para org. de outros itens.
• Lacuna da organização - dá espaço para os
documentalistas; ocasionando cisão entre
bibliotecários tradicionais (bibliotecas e livros) X
Bibliotecários especializados/documentalistas
(documento e informação);

• Final séc XIX, Paul Otlet e Henri La Fontaine,


estabelecem as bases da Documentação.
Marcos: I Conferência Internacional de
Bibliografia (1895), que cria o IIB, depois IID e
FID; Repertório Bibliográfico Universal (fichas
12,5/7,5 cm); Classificação Decimal Universal
(1904).
• Ampliação do conceito de documento, independente do
formato ou suporte; tratamento voltado p/ o assunto; e
cooperação bibliográfica;

• Nos EUA, o aumento da demanda de informação


especializada e de bibliotecários especializados dá
origem, em 1909, a Special Library Association, que
dissocia da ALA (American Library Association, criada
1876); e dá origem ao termo special libraries.

“bibliotecários especializados norte-americanos e os


documentalistas europeus convergiam para um
mesmo objetivo: enfrentar o desafio de organizar
e prestar serviço de acesso à informação a pessoas
e às instituições atuantes em áreas especializadas”
(DIAS, 2000, p. 74)
• A Documentação introduz novo paradigma,
ampliação do conceito de documento, acesso ao
conteúdo do doc (informação, conhecimento
registrado), mais do que o próprio documento.

• Na segunda metade do século XX, o termo


Documentação passou a ser menos usado nos
Estados Unidos depois que passou a adotar o
termo Ciência da Informação.

• Chegamos, de fato, a Ciência da Informação!


Então, considera-se que:
A Biblioteconomia deu origem à

Bibliografia, que fundamentou à

Documentação, que forneceu


insumos à constituição da

Ciência da Informação
Periodização da C.I
• 1. Dos pioneiros da Documentação à Guerra
Mundial de 1914-1918; (Já explicado!)
• 2. O período compreendido entre 1919 e a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945);
• 3. Do pós-guerra à Conferência Internacional
sobre informação científica, em 1958;
• 4. De 1960 a década de 1980;
• 5. De 1990 aos dias atuais (ROBREDO, 2003).
2. O período compreendido entre 1919 e a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
• 1931 IIB passa a ser IID (substituição do termo
Bibliografia para Documentação);
• 1934 é publicado o Traité de Documentation, de
Otlet (1º manual para os documentalistas).
• 1935, realizado o 3º Congresso Internacional
promovido pelo IID, significativo nas discussões
sobre tecnologia;
• 1937, mudança do IID para FID, criação ADI
American Documentation Institute, depois ASIS,
ASIST.
Teorias que repercutem na C.I
• Evento (1948) Conferência de Informação
Científica, promovido pela Royal Society;
• 1948 Nobert Wiener “Cybernetics or control and
communication in the animal and the machine”;
• 1949 Shannon e Weaver “Teoria matemática da
comunicação ou teoria da informação”;
• 1951 Bertalanffy “Teoria Geral de Sistemas”;
• 1951 Calvin Moores cunhou o termo
“recuperação da informação”.
3. Do pós-guerra à Conferência Internacional
sobre informação científica, em 1958
• Pós-guerra é o momento oficial do nascimento da
C.I (com raízes nas atividades final séc XIX);
“A C.I nasceu no bojo da revolução científica e técnica
que se seguiu à segunda guerra” (SARACEVIC,
1996).

• Guerra gerou novos problemas e demandas:


- Necessidade política, social, cultural e histórica;
- Desenv. das tecn. de armaz. e recup. da inf.
- Crescimento da inf.científica, relatórios técnicos;
• Explosão da informação =
crescimento exponencial da inf,
relatado por V. Bush, em 1945.
Considerado “pai” da C.I.

• Autor do artigo “As we may think” (Saracevic, origem


da C.I pode ser identificada neste texto, 1) problema e
2) solução)
- Idelizador da maquina MEMEX (Memory Extension).

• International Conference on Scientific Information,


realizado em 1958, marcou a transf. do termo
Documentação p/ C.I.
• Anos 50/60 houve financiamentos do governo
norte-americano para projetos estratégicos do
controle da informação, em ciência e tecnologia,
depois em outras áreas. Deu origem Indústria da
informação.

• Second International Congress on Information


System Sciences, realizado em 1961/62, marcou o
uso do termo “information system sciences”.

• A Recuperação da Informação e os sistemas são


responsáveis pela origem da CI (SARACEVIC,
1992).
4. De 1960 a década de 1980

• Georgia tech (1961/62) foi apresentado o 1º registro


teórico oficial (nascimento da C.I):

Ciência que investiga as propriedades e o


comportamento da informação, as forças que regem o
fluxo da informação e os meios de processamento da
informação para o máximo de acessibilidade e uso. O
processo inclui a origem, disseminação, coleta,
organização, armazenamento, recuperação,
interpretação e uso da informação.
• Pinheiro (2002), refere-se o momento anterior
aquele evento como fase Pré-História da C.I.

• 1966 é publicado o ARIST (Annual


Review of Information Science);

• 1968 ADI muda para ASIS (American


Society of information science); (para Le Coadic esta
é a data de nascimento da C.I). Em, 2000, ASIS muda
para ASIST (and Tecnology).

• Crescimento da literatura, diversos conceitos de C.I


5. De 1990 aos dias atuais
• CoLIS 1 1991 in Tampere, Finland
• CoLIS 2 1996 in Copenhagen, Denmark
• CoLIS 3 1999 in Dubrovnik, Croatia
• CoLIS 4 2002 in Seattle, USA
• CoLIS 5 2005 in Glasgow, Scotland
• CoLIS 6 2007 in Borås, Sweden
• CoLIS 7 2010 in London
• CoLis 8, Agusto 2013, in Copenhagen, Denmark
Conceituações de C.I

Yves-françois LE
Tefko SARACEVIC. Gernot WERSIG Francis MIKSA.
COADIC. Professor do
Professor da School (morreu 2006). Era prof. Aposentado. School
Conservatoire National
of Communication & de Ciência da of Library and
des Arts et Métiers.
Informatio, Rutgers, Informação, Information Science.
França.
the State University of Universidade Livre de University of Texas.
New Jersey USA Berlim
Conceituações de C.I
• Saracevic (1992) Aponta 3 características: 1) C.I é, por
natureza, interdisciplinar (variedade de formações); 2) está
ligada a tecnologia da inf. 3) participante ativa na
sociedade da informação.

“A C.I é um campo dedicado às questões científicas e à prática


profissional voltadas para os problemas da efetiva
comunicação do conhecimento e de seus registros entre os
seres humanos, no contexto social, institucional ou individual
do uso e das necessidades de informação. No tratamento
destas questões são consideradas de particular interesse as
vantagens das modernas tecnologias de informação”

4 campos. Biblioteconomia, Ciência da Computação, Ciência


Cognitiva (inteligência artificial) e Ciência da Comunicação
• “ o campo comum entre a Biblioteconomia e a C.I,
que é bastante forte, consiste no compartilhamento
de seu papel social e sua preocupação comum com os
problemas da efetiva utilização dos registros
gráficos” (SARACEVIC, 1992).

• MAS, existe diferenças qualitativas que


desautorizam a união em um só campo:

• 1) seleção dos problemas e definição; 2) questões


teóricas, modelos explicativos; 3) natureza e grau de
experimentação; 4) instrumentos e enfoques usados;
5) natureza e força das relações interdisciplinares
estabelecidas.
Conceituações de C.I
• Wersig (1992) A CI desenvolveu a partir da
documentação e recuperação da informação/ anos 1950.
• Não é orientada por 1 modelo, teoria, mas múltiplos
modelos e teorias. Orientada por conceitos e
abordagens e problemas.
• C.I é uma ciência social que busca ajudar as
pessoas/atores confusos pelas situações causadas pela
mudança do conhecimento.

“ A C.I não é uma disciplina no sentido clássico das


ciências, mas sim uma nova ciência, uma ciência pós-
moderna, que tem como objetivo solucionar problemas
causados por aquela ciência e pelas tecnologias”.
Conceituações de C.I
• Le Coadic (2004) A C.I é um ciência social rigorosa
que se apóia em uma tecnologia também rigorosa.
Tem por objeto de estudo das propriedades gerais da
informação (natureza, gênese, efeitos) e análise de
seus processos de construção, comunicação e uso.
• Marcada pela interdisciplinaridade.

• 4 disciplinas práticas que atuavam no campo da


informação, antes da C.I: não são ciências, suas
soluções são empirícias, dificilmente
generalizáveis, nem uma tecnologia rigorosa, e
sim uma prática.

• Biblioteconomia (arte de org, bcas),


• Museologia (arte de org.museus),
• Documentação (arte e org. e analisar assuntos dos
doc.) e
• Jornalismo (arte de org.jornal, rádio, TV).
Conceituações de C.I
• Miksa (1992) fala em paradigma (modelo que é
compartilhado por uma comunidade científica):

• Paradigma da Ciência da Informação (envolve o


processo de comunicação da informação dentro de
um sistema de comunicação humana) Origem anos
1950, com as ideias da engenharia de comunicação e
teorias cibernéticas.

• Paradigma da Biblioteconomia (orientado para a


biblioteca, instituição social bem definida e única,
que tem como função dar acesso à coleção de
documentos de seu acervo). Origem na Escola de
Biblioteconomia de Chicago, anos 1920/1930, ideias
da Sociologia e Educação.
Fundamentos da Ciência da Informação

Unidade 2. A questão do objeto


A informação
• Smith (2012) a C.I tem como objeto de estudo a
Informação, mas não é qualquer informação.
• Informação está presente em todas as ciências,
sociedades (S.I), mas a informação tem seu modo de
olhar.
• Informação da C.I possui alguns atributos: registrada,
estocada, institucionalizada, considera útil, “selo de
qualidade”.

• 1) registrada: informação que pode ser usada por mais


pessoas sem limitação de tempo e espaço. Acesso é
importante. Infor. algo palpável, materializada em
documentos. Diferente: sinal de fogo, acidente
geográfico (pontual, tempo e espaço)
• O registro torna menos volátil e mais portátil a
informação.
• A infor. disponibilizada por instituições A.B.M
passa a ser um inf. “que existe”, considerada
socialmente útil e potencialmente informatiza.
• A infor. carrega “selo de qualidade”, pois é fruto
de opções e foi considerada digna de preservação,
varia no tempo e espaço.
• Ex: museus antes de 1950 e depois, o que é
“informacional” é relativo, depende do contexto,
histórico.
• Informação é institucionalizada: “instituições
coletoras de cultura” ou “instituições
disponibilizadoras de cultura”.

Biblioteca Arquivo Museu

• Separação destas instituições pelo tipo de


documento é inválida, pois essas instituições
movimentos dentro do contínuo. Todas se
preocupam com gestão, armazenamento, org.
documentos culturais.
• Documentos audiovisuais e doc. Eletrônicos estão
presentes em todas 3 instituições.

• Exposição em Bibliotecas; livros em museus;


objetos em bcas, documentos de arquivos nas
bcas e museus...
Acervo de escritores mineiros UFMG
(contém acervo bibliográfico, arquivístico e museológico)
Informação e conhecimento
• Conhecimento é elaborado por cada indivíduo a
partir da apropriação de informações
disponibilizadas de diversas maneiras.
• Informação – estruturas significantes, capaz de
alterar a estrutura cognitiva do sujeito, mas para
isso duas competências são essenciais: 1)
linguística (permite entender a língua), 2)
enciclopédica (entender o que se fala “bagagem
do sujeito”.
• Para a informação fazer sentido o individuo tem
que ter um conhecimento anterior, que possibilita
alterar, completar ou rever o conh recebido.
• Informação sozinha não faz nada! Precisa do
sujeito. Conhecimento é individual e
subjetivo, é construído a partir da inf.

Questão respondida,
Informação obtida

Situação USO

Lacuna
Informação e comunicação
• A informação só se efetiva quando o receptor a
recebe, inf. tem que fazer sentido, alterando a
estrutura do sujeito, estoque de conhecimento.

• Comunicação depende do conh. preliminar do


sujeito.

• A.B.M disponibilizam a infor, mas não garantem a


comunicação, pois depende do sujeito.
• A.B.M disponibilizam inf. de 2 tipos: informação
contida nos documentos, produzida pelos autores, e a
informação gerada a partir deles, inf.documentária
(descrição e assunto; intrínseca e extrínseca).

• A informação é selecionada, organizada, representada de


acordo com princípios institucionais e função dos
documentos.

• Objetivo da C.I é contribuir para a melhoria das


condições de vida do homem e da sociedade através do
acesso à informação. Criar condições para a informação
seja comunicada, transf. em conhecimento.
Dado, informação e conhecimento
Dados são simples estruturas de observação
do mundo. Facilmente estruturados, números
e símbolos. De fácil transferência e
processamento. Dados = matéria bruta. Byte.
Dados são matérias-primas da informação.

Informação: é o dado trabalhado,


modificado, significado pelo sujeito. Aquilo
que faz sentido para o indivíduo. Está além
do dado. Matéria lapidada.
Informação é matéria-prima do conhecimento

Conhecimento: está além da informação, é a


informação re-significada de acordo com o
sujeito, com seu contexto. Conhecimento é
individual, subjetivo. Está ligado ao sujeito. É
o diamante lapidado.
Dado:

Informação:

Conhecimento: No inverno viajar para a Europa porque


lá é verão; No verão sair pra pescar com os amigos;
No outono ver as folhas caírem; Primavera tomar
sorvete no shopping.
(atividade complexa, exige codificação, interpretação
da informação, relacionamento).
• As atividade de transformação do dado em informação, e
informação em conhecimento estão ligadas a um sujeito.

• E o profissional da informação?

Ele trabalha com a informação objetivada (registrada,


em forma de escrita (impressa ou digital), oral ou
audiovisual em um suporte ) e não com o
conhecimento (competência do usuário). C.I tem que
possibilitar que haja essa transformação Dado-
informação-conhecimento.

Para tanto, o profissional atua no ciclo social da


informação:
Documento é o termo
genérico que designa
objetos portadores de
Rendón Rojas, 2005. informação.
Profissional da informação
• Gestor da informação, gestor de documentos, gestor
de conteúdo
• Gestor do conhecimento
• Arquiteto da informação
• Analista de informação
• Consultor em informação
• Gestor de recursos de informação
• Gestor de sistemas de informação nas empresas
• Gestor de unidades de informação tradicionais
(bibliotecas e centros de documentação)
• Produtor de conteúdos digitais
• Auditor de sítios web
• Desenvolvedor de projetos de fomento à sociedade
da informação
• Multiplicidade de nomes tem haver com os
diversos contextos, mas será que isso se justifica?

• Modelo da Universidade do Porto (Silva e


Ribeiro), a formação integrada em ‘graduação’ em
Ciência da Informação, esta vista como uma
ciência transdisciplinar formada a partir da A.B.D,
e interdisciplinar, que tem como objeto de estudo
a informação, fenômeno humano e social. C.I
daria a base teórica, já que as disciplinas da
Arquivologia, Biblioteconomia desenvolveram
por meio da prática, do fazer.

• Formação evitaria essa divisão, o que leva a uma


dificuldade de reconhecimento social e diferentes
modelos formativos.
Modelo UNAM (México)
• Rendón Rojas (2011), considera Arquivística,
Biblioteconomia e Documentação disciplinas
informativas documentais, que compartilham de um
núcleo comum. Essas disciplinas formam novo
campo de conhecimento: “Ciencia de la
información Documental”.
A, B e D tem como
objeto de estudo o
processo documental
que ocorre dentro de um
Sistema Informativo
Documental (arquivo,
biblioteca, centros de
documentação).
• Para pensarmos juntos:

• O que você acha destes modelos formativos?

• Você considera a informação objeto de estudo?

• Você apontaria outras relações entre a Ciência da


Informação com o seu campo de formação?
Fundamentos da Ciência da Informação

Unidade 2. Evolução histórica da Ciência


da Informação
• Armando Malheiro Silva (1999, 2002, 2006)
• Professor do Departamento de Jornalismo e Ciências
da Comunicação, Universidade do Porto.

• Escreveu textos, artigos, livros sobre a Ciência da


Informação, informação, documentação, Ciências
documentais, Arquivística.
• Disponíveis em:
http://sigarra.up.pt/flup/pt/publs_pesquisa.querylist?
p_codigo=322401
• Arquivística, Biblioteconomia e Museologia são
disciplinas práticas formalizadas no século XIX no
campo da História – “ciências auxiliares” (História,
Literatura, Artes).

• Para o positivismo conhecimento verdadeiro era o


conhecimento científico, sistematização da ciência,
marcada pela objetividade das ciências exatas.

• A busca pela cientificidade deu origem a diversos


manuais, obras que registravam operações técnicas
antes realizadas intuitivamente.
Handleiding voor het A classification and O manual
ordenen en subject index for Museographia, de
beschrijven van cataloguing and 1727, do alemão
Archieven, publicado arranging the books Gaspar F. Neickel, que
em 1898, de autoria and pamphets of a pode ser visto como
de S. Muller, J. A. library, de Melvil obra fundadora do
Feith e R. Fruin, que Dewey, publicada em termo museografia
marcou a 1876, que marca a (conjunto de noções
consolidação da consolidação da técnicas referentes aos
Archivistique. Library Economics. museus), que vigora
XX, Museologia.
• A/B/M consagram a profissionalização disciplinar, não
são ciências, são práticas.

• São práticas porque a práxis fez surgir a formação


adequada ao desempenho profissional.

1821 Arquivologia e Biblioteconomia (École des


Chartes); 1882 Museologia (École du Louvre).

- Argumento é que a prática antecedeu a teoria,


impedindo status científico.

- A, B, M surgiram por conta das instituições (saberes


acumulados nesses espaços)
Profissão é diferente de disciplina científica.

Exemplo: A profissão de pescador tem também técnicas,


experiências, normas de conduta, etc, mas um pescador
não é um biólogo marinho que além de ser
profissionalmente biólogo assenta a sua profissão num
corpus disciplinar efetivamente científico.

ARQUIVOS, BIBLIOTECAS E MUSEUS

São instituições que durante a Antiguidade e Idade


Média não eram rigidamente definidas.

Objetivo comum: custodiar, armazenar, guardar.


Caráter enciclopedista. Fase sincrética .
“as raridades bibliográficas e manuscritas,
preciosidades por mecenas, sábios, ligados à
compulsiva recolha de objetos antigos e às
primeiras descobertas arqueológicas de
monumentos e artefatos das remotas
civilizações, formaram um acervo heterogêneo e
disperso, concentrado junto das entidades
coletivas, que por iniciativa própria e na esfera
restrita de ação, configuraram um desiderato
pré-cultural – bases para o iluminismo,
nacionalismo e capitalismo da “indústria
cultural”.
• Idade moderna as instituições começam a se
distanciar, devido a fatores como:
Invenção da imprensa (multiplicação de textos);
Iluminismo (necessidade de classificar, separar ideias
e coisas);
Crescimento das instituições (bibliotecas, arquivos e
gabinetes);
Renascimento (produção de manuais técnicos de
organização);
Positivismo e Ciência moderna (autonomização das
ciências; construção científica particularizada;
manuais específicos).
Fase sincrética e custodial (Antiguidade até século XVIII)
• Não havia uma delimitação entre as instituições.
• Os acervos formavam uma realidade única e inseparável.
• Mudança se deu na modernidade, necessidade iluminista de
classificar, separar ideias e coisas.

Fase técnica (1898- 1980)


• Especificidades entre arquivos, bibliotecas e museus.
• Proliferação dos manuais, busca pela objetividade.
• Preservação, conservação, restauração, acondicionamento e
armazenamento é transversal às três disciplinas.
• Todas tiveram origem e razão de ser no campo epistémico da
História, nas exigências intrínsecas no conhecimento histórico.

Paradigma: é mais que uma teoria, conjunto de princípios,


valores que são transmitidos. Algo que prevalece, marca.
Fase sincrética e técnica são marcadas
pelo paradigma custodial
• Sobrevalorização da custódia, guarda, conservação,
restauro do suporte;
• Preservação da cultura erudita ou “superior”, em
detrimento da cultura popular;
• Ênfase na memória como fonte legitimadora do Estado-
nação, ideologias nacionalistas;
• Importância dos instrumentos de pesquisa (catálogo,
índice, inventários) dos documentos armazenados;
• Prevalência da divisão profissional e das instituições A,
B e M.
O gabinete de curiosidades, eram espaços pequenos, como o de Frans Franken (fig. 1)
demonstra a acumulação diversas telas de paisagens, retratos e cenas estão
agrupadas mais pelo tamanho do que por qualquer outro critério e são entremeadas por
animais embalsamados.

As grandes navegações e as descobertas do século XVI acabam gerando uma variação


destes gabinetes que passam a abrigar os animais e objetos exóticos ao lado de
artefatos feitos pelo homem: as naturalia e as artificialia. No Ferrante Imperato’s
Museum, em Nápoles, por exemplo (fig.2), convivem animais de várias espécies ao
lado de objetos e livros. Os gabinetes não eram homogêneos.
NOVO PARADIGMA, atinge contornos nítidos no
século XXI.

Paradigma pós-custodial (1980- )

• Raízes nas posições vanguardistas de Paul


Otlet e Henri La Fontaine. (Conceito de
documento é ampliado; acesso a inf.)
• Contexto: Impacto da Sociedade da
Informação, Tecnologias da Informação e
Globalização. Valorização da Informação,
fenômeno humano e social.
Paradigma pós-custodial
• Valorização da informação enquanto fenômeno humano
e social, sendo o suporte elemento secundário;
• Dinamismo informacional, oposto ao “imobilismo”
documental;
• Prioridade máxima concedida ao acesso à informação,
justificando a preservação e custódia;
• Imperativo de indagar, conhecer a informação através de
modelos teóricos-científicos cada vez mais exigentes e
eficazes, em vez de soluções naturais, senso comum e
prático;
• Alteração da atividade disciplinar e profissional
sintonizado com o universo dinâmico das ciências sociais.
• Museu como
fenômeno.
• Coleção ->
patrimônio
• Edifício ->
território
• Visitantes->
comunidade
• Canadá: a fusão do Arquivo Nacional e da
Biblioteca Nacional
• Europa: Europeana (http://europeana.eu/)
• Agregador de arquivos Archives Portal Europe
(http://www.archivesportaleurope.eu/)
• França: política cultural, Centro Pompidou,
Centros de Cultura dos povos/países
• Inglaterra: “Preservando Nosso Futuro:
Estratégias Institucionais para o Conteúdo
Digital” (“Sustaining Our Digital Future:
Institutional Strategies for Digital Content”)
• Inglaterra: arranjos “open linked data” para
disponibilização integrada de catálogos de
bibliotecas, arquivos e museus: Projeto
Discovery (http://discovery.ac.uk/)
• América Latina: “Encuentro Latinoamericano de
Bibliotecarios, Archivistas y Museólogos (EBAM)
• Argentina: “Congreso Nacional de Archivos, Bibliotecas
y Museos”
• Brasil: Integrar 2002, 2006
• Mesa redonda “Aproximações entre Arquivologia,
Biblioteconomia e Museologia: ideias e propostas” no
Enecin em 2012
• Brasil, 28/02/2013: Acordo entre Arquivo Nacional,
Biblioteca Nacional e Ibram – preservação e acesso aos
conteúdos das instituições
• Plano Nacional de Cultura implementou SNIIC, Sistema
Nacional de Informações e Indicadores Culturais
Informação
• Informação como fenômeno humano e social, que
deriva de um sujeito que pensa, conhece, se emociona
e interage com o mundo sensível à sua volta e a
comunidade dos sujeitos que comunicam entre si.

• “conjunto estruturado de representações mentais e


emocionais codificadas (signos e símbolos) e
modeladas com/pela interação social, passíveis de
serem registradas num qualquer suporte material
(papel, filme, banda magnética, disco compacto, etc.)
e, portanto, comunicadas de forma assíncrona e multi-
direccionada”.
Outras características da informação
• Estruturação pela ação (humana e social) – ato individual
ou coletivo funda e modela estruturalmente a informação;
• Integração dinâmica, ato informacional resulta das
condições e circunstâncias internas e externas das ações;
• Enunciação (máxima ou mínima) do sentido ativo, ou seja,
da ação fundadora da informação;
• Quantificação, codificação linguística, numérica,
figurativa, mensurável;
• Reprodutividade, reproduzível sem limites, possibilidade
de retenção, memorização.
• Transmissibilidade, (re) produção informacional,
comunicabilidade.
• http://www.youtube.com/watch?v=oRf0AdlXeXQ

• Ciência da Informação é um campo uno e


transdisciplinar que dá suporte teórico a diversas
disciplinas aplicadas – Arquivística, Biblioteconomia e
Sistemas de Informação, três ramos específicos de
aplicação teórico-prática.
• Parte integrante de um corpus científico unificado pelo
mesmo objeto, a informação como fenômeno humano e
social.

• E a Museologia? A musealização é para o autor objeto de


estudo, a informação não é tão explicita como na A,B.
Diagrama do campo científico da CI

Museologia
Relação com a C.I, nível
interdisciplinar.
A inf. como fenômeno
humano/processo é
irredutível às noções de
patrimônio e memória.
Diagrama da construção trans e interdisciplinar da CI

2006 – Livro Informação(...), a Museologia é potencial no espaço


transdisciplinar. Aparecimento do Museu Virtual traz consigo um
novo desafio epistemológico, colocando-a no campo de ação e
estudos da C.I. Convertendo a uma prática.
• Ciência da Informação é uma ciência social que
investiga os problemas, temas e casos
relacionados com o fenómeno info-
comunicacional perceptível e cognoscível através
da confirmação ou não das propriedades
inerentes à génese do fluxo, organização e
comportamento informacionais (origem, colecta,
organização, armazenamento, recuperação,
interpretação, transmissão, transformação e
utilização da informação).
• Ela é trans e interdisciplinar, o que significa estar
dotada de um corpo teórico-metodológico próprio
construído, dentro do PARADIGMA EMERGENTE PÓS-
CUSTODIAL, INFORMACIONAL E CIENTÍFICO, pelo
contributo e simbiose da ARQUIVÍSTICA, da
BIBLIOTECONOMIA/DOCUMENTAÇÃO, dos SISTEMAS
DE INFORMAÇÃO e Organização e Métodos.
A MUSEOLOGIA (renovada e não patrimonialista)
poderá vir a integrar este núcleo.

• Dicionário eletrônico de terminologia da C.I


http://www.ccje.ufes.br/arquivologia/deltci/def.asp?
cod=15
Arquivologia, Biblioteconomia e
Museologia, o que agrega estas
atividades e os que as separa?
• Johanna W. Smit (1993, 1999, 2000).

• Professora do Departamento de
Biblioteconomia e Documentação da
ECA/USP e dirige o Arquivo Geral da
Universidade de São Paulo.
• Profissões distintas, exercidas em espaços
diferenciados, Arquivos, Bibliotecas e Museus.
• Nomeia essas três categorias –> “3 Marias”, em
uma tentativa de atingir uma simplificação
didática, visando resumir uma situação, de
proximidade entre as irmãs, que atuam na
organização da informação.

• São da mesma família – profissionais da


informação, liberais (uma loura, uma morena e
uma ruiva ), só que ignoram umas as outras
(atuação profissional, teorias e metodologias).
• A tradição separa essas categorias, enfatizando
as diferenças, as especificidades, ignorando as
semelhanças.
• Cada área tem sua bibliografia própria, eventos
e associações. Mecanismos de organização.
ISADG, AACR2, Inventário, Tesauros...
• A distinção pauta-se nas práticas profissionais –
no paradigma do acervo, nas instituições, em
que arquivos conservam documentos
administrativos, bibliotecas armazenam livros e
periódicos e museus custodiam objetos.
• As 3 Marias não nasceram separadas, elas
afastaram ao longo do tempo (idade moderna).
• “ciências documentais” agrega pela via do
documento, mas a dupla informação-
documentação é tencionada mais na Ciência da
Informação.
• Informação – “deve ser registrada de alguma
forma para poder ser estocada” - postulado básico
da área.
• Mudança do paradigma do acervo para o
paradigma da informação, do usuário.
MUDANÇA DE PARADIGMA
• A ênfase no usuário não desconhece o documento,
mas subordina a sua importância.

• Para o usuário o que interessa é satisfazer sua


necessidade de informação, e pouco importa se é
informação arquivística, bibliográfica ou
museológica. “vazio deve ser preenchido”.

• As instituições A,B,M tem em comum


atividades/processos que as aproximam. Elas
armazenam, estocam os documentos, produzem
informação documentária para o acesso da informação
estocada, registrada, institucionalizada, considerada
útil.
Arquivologia é mais forte na gestão da memória – acúmulo das massas documentais.
Biblioteconomia mais forte na produção da informação documentária (informação criada a
partir da representação).
Museologia, mais forte na mediação da informação, pois sempre ocupou de “o que mostrar” e
“como mostrar”
• Ciência da Informação – lida com a informação mais
ampla, informação estética, informação genética,
situacional....

• Objetivo do profissional “ é disponibilizar a


informação certa, da fonte certa, para usuário certo,
numa forma considerada adequada para o usuário a
um custo justificado pelo uso”.

• Status da área somente poderá ser confirmado


quando for abandonada visão pragmática das
práticas profissionais, dispondo de princípios gerais e
comuns às 3 Marias.
O que é Ciência da Informação?

• http://www.youtube.com/watch?v=13p6ZP2u
Tf8

E para você?

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