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Veiga
Uma era em que a quantidade de informação
disponível e acessível pegou a todos nós de
surpresa. Não estávamos preparados para
ela. Antes, as pessoas não sabiam que não
sabiam. Agora, sabem que não sabem, e isso,
num mundo competitivo e predatório, gera
uma sensação de frustração e incapacidade
que, aos poucos, vai se transformando em
uma ansiedade cada vez maior (B)
Definição: Para Shanon, autor do livro “A teoria
matemática da comunicação”, informação é tudo
aquilo que reduz a incerteza. Partindo
dessa premissa, o que vivemos hoje não poderia
ser definido como a Era da Informação, uma vez
que temos uma explosão de
dados e fatos que, isoladamente, não têm
significado e não produzem compreensão. Sem
isso, não reduzem a incerteza e,
portanto, passam a ser “não-informação”.
Utilidade
Se o indivíduo não consegue desenvolver
mecanismos de coletar e transformar dados e
fatos em informação, de nada vale ele
ter acesso a miríades de fontes desses dados.
Ao contrário, é possível que essa enxurrada
de não-informação que ele tem
acesso ou recebe diariamente, acabe
dificultando ainda mais sua tarefa de
transformar tudo isso, primeiro em
informação útil,
e depois em conhecimento aplicado.
Outra questão pertinente quanto à utilidade da informação é a
capacidade do indivíduo em dar aplicabilidade a ela. É muito
comum encontrar pessoas matraqueando, de forma
tecnicamente correta, um repositório de informações sobre
como se faz
para resolver determinada situação e, no instante seguinte,
mostrarem-se totalmente ineptas para aplicar suas soluções em
um contexto mais elaborado. Em uma simples analogia com a
pedagogia convencional vemos que, mesmo nas escolas mais
bem “sucedidas”, observa-se que a maioria dos bons estudantes
(freqüência assídua, notas altas e o reconhecimento dos
professores) não demonstra uma compreensão adequada dos
conceitos que aprenderam na escola. Eles falham em resolver
problemas que são formulados de maneira ligeiramente
diferente daquela em que foram formalmente instruídos e
testados.
Quantidade
Ninguém duvida dos benefícios que a tecnologia
da informação tem proporcionado a todos.
Acessar, em tempo real, informações sobre
quase tudo que existe no mundo e poder
estabelecer contato direto com as fontes de
informações, representa uma drástica mudança
de paradigma na sociedade humana. Por outro
lado, o maior acesso à informação tornou
visível a parte “submersa do iceberg” – há
informação demais e tempo de menos.
O excesso de informação pode ser percebido
através da grandiosidade dos números que os
fatos nos mostram:
- Mais de 1.000 novos títulos de livros são
editados por dia em todo o mundo;
- Uma só edição do jornal americano The
New York Times contém mais informações do
que uma pessoa comum recebia
durante toda a sua vida há 300 anos (Revista
Veja de 05 de setembro de 2001);
Atualmente existem mais de três bilhões de
páginas disponíveis na Internet;
- Estão em circulação mais de 100 mil
revistas científicas no planeta;
- Há 15 anos a Televisão brasileira tinha
menos de 10 canais. Hoje tem mais de 100 e,
daqui a 10 anos, estima-se, terá mais de 400
canais.
Para que possamos entender melhor a questão do excesso de
informação vamos verificar um exemplo prático e real. Se um
estudante universitário que sabe ler apenas em português e
inglês, resolve realizar uma pesquisa aprofundada sobre o tema
crianças hiperativas, irá deparar-se com a seguinte quantidade
de informações:
- 178.820 páginas na Internet (até 30 de julho de 2003);- 6.884
artigos científicos publicados nas revistas da área da saúde
nos últimos 12 anos;- 4.748 artigos científicos publicados em
revistas da área de educação nos últimos 10 anos;
- 1.387 artigos e matérias de jornais e revistas informativas (só
em português), publicados nos últimos cinco anos;
- 557 livros (sendo 32 em português e o restante em inglês).
Mediante estes números, não é preciso muito esforço para
perceber que, se o estudante não estiver preparado para o trato
com a informação, tenderá a ficar extremamente ansioso, sem
saber por onde começar seu trabalho.
O armazenamento da informação também contribui para o
problema da ansiedade. Para a editora da revista eletrônica
Mundo
Digital, Maria Ercília, está acontecendo uma inversão de
paradigma no nosso relacionamento com a informação. “Nossa
capacidade de produzi-la era contida e disciplinada pela
dificuldade e pelo custo de publicação, transmissão e
arquivamento.
Hoje o que acontece é exatamente o contrário: esses custos
caem mais depressa do que podemos acompanhar.” Se não
estamos gastando muito espaço nem dinheiro para guardar algo,
acabamos não jogando fora - e gerando uma pilha de dados,
que se torna inútil pelo seu próprio volume absurdo. Muitas
pessoas têm informações armazenadas em CD, disquetes e no
HD
do computador que, se impressas, não caberiam em suas casas.
Dispersão
O excesso de informações em forma de
textos técnicos, análises, críticas, opiniões,
interpretações superficiais, ao invés de
embasar o conhecimento e auxiliar a tomada
de decisão, acaba causando uma dispersão
do conteúdo informacional que pode
gerar conclusões mal fundamentadas e
decisões equivocadas.
Segundo o jornalista André Azevedo, o
excesso de informação na mídia pode estar
causando um relativismo absoluto nas
concepções humanas ou um “sentimento de
impotência, que costuma levar o indivíduo à
apatia, ao conformismo, ao cinismo
ou mesmo niilismo - pois a constelação de
informações inviabiliza a hierarquia de
valores do receptor, impossibilitando-o de
avaliar o que é de fato fundamental e o que é
supérfluo”.
Para Azevedo, “as futilidades circulam ao lado de grandes
questões da humanidade com idênticos formatos, espaços
editoriais
e repercussão. A notícia importante desaparece, encolhida
sob a multiplicação infinita de fofocas sobre celebridades,
rusguinhas teatrais entre políticos, declarações oficiais,
etc. O viciado em informação precisa saber tanto sobre a
nova
tecnologia de aparelhos de mp3 quanto o resultado do
campeonato mundial de ping-pong, tanto sobre as
oscilações da bolsa
em Kuala Lumpur quanto à nova safra de desenhos
animados do Cartoon Network, independente da
necessidade real de saber
tais coisas”.
Revistas
Diante deste cenário, as revistas segmentadas
que souberem realizar o papel de coletar,
selecionar e contextualizar a
informação, dentro das necessidades de seu
público-alvo, deverão ser as mais bem
sucedidas nesta era do excesso de
informação.
Segundo Richard Wurman, autor do livro “Ansiedade de Informação”, este é o resultado da distância cada vez maior entre o
que compreendemos e o que achamos que deveríamos compreender.
Com medo de ficar desatualizado e na busca de acompanhar as miríades de teorias preconizadas pelos “gurus” do
conhecimento, muitas pessoas começam a desenvolver sentimentos de ansiedade e frustração, em conseqüência da
incapacidade de absorverem toda a quantidade de informações que julgam necessárias.
Para a psiquiatria, a ansiedade surge em conseqüência da superestimulação que não pode ser descarregada por meio da ação.
No caso da ansiedade de informação, ela pode resultar tanto do excesso como da carência de informação. O que conta para a
gênese da ansiedade é como nos sentimos perante a informação ou a falta dela.
Há um círculo vicioso comum para todos aqueles que ficam ansiosos na busca de informações. Quanto mais informações
obtêm, mais ficam sabendo da existência de novas fontes da mesma informação, gerando ainda mais ansiedade.
É comum as pessoas se sentirem intimidadas e impotentes frente à quantidade enorme de informações existente à sua volta,
e buscarem, portanto, mais e mais informações na vã tentativa de suprir suas inseguranças.
O problema é que tais sentimentos de impotência agravam os sintomas de ansiedade que, por sua vez, reduzem a capacidade
de aprender, gerando mais ansiedade e fechando o círculo vicioso.
O mal-estar começa com a sensação de que tudo está acontecendo mais rápido do que se consegue assimilar. Executivos
costumam ficar angustiados pensando que os outros estão obtendo mais informações, lendo mais livros, lendo os livros e
revistas certos, utilizando softwares melhores, enquanto eles estão ficando para trás em suas carreiras.
Segundo Wurman, são várias as situações que costumam provocar ansiedade de informação: não compreender a informação;
sentir-se assoberbado por seu volume; não saber se uma certa informação existe e; não saber onde encontrá-la.
Manter a capacidade de se concentrar e fixar a atenção, selecionando os estímulos
e informações que interessam, tornaramse
os grandes desafios desta era do conhecimento.
A tentativa de apreender muitas informações ao mesmo tempo prejudica a
capacidade de fixação mnemônica dessas
informações e, conseqüentemente, a consolidação do aprendizado.
A nossa capacidade de reter e consolidar estímulos e informações é limitada, mas
nossa percepção não. Isso possibilita que a
pessoa se ocupe com várias coisas ao mesmo tempo, mas com perda da
capacidade de processar adequadamente o que está
fazendo.
Nossa percepção do mundo é simultânea, mas nossa ação é seqüencial; se a
pessoa não estabelecer prioridades não
conseguirá ter um bom desempenho.
Não são apenas as informações provenientes de livros, revistas, jornais e dos
websites que estão causando ansiedade e
problemas. Os e-mails e os telefones celulares começam a entrar no rol dos
elementos potencialmente nocivos ao bom
desempenho cognitivo dos profissionais ansiosos.
Os e-mails, que representam um marco sem precedentes
na facilitação da comunicação humana à distância, estão
se
tornando um elemento que rouba muito tempo e gera
ansiedade nos profissionais mais suscetíveis.
Recentes pesquisas mostraram que um executivo norte-
americano recebe, em média, de 35 a 120 e-mails diários,
dependendo da função e tipo de atividade que exerce.
Tomando como base 50 e-mails diários, pelos menos 35
deles são de
informações inúteis, repetitivas ou não solicitadas
(spams). Estima-se que o executivo gaste de 45 a 60
minutos de seu tempo
diário com esse tipo de e-mail
Já o telefone celular, importante elemento de facilitação da
comunicação just-in-time, também tem se mostrado, nas mãos
dos mais ansiosos, um causador de dissociação cognitiva.
Conforme explica Renato Sabattini, neurocientista da Unicamp,
quando toca o celular e a pessoa interrompe repetidamente
uma tarefa que estava realizando, isso automaticamente inibe os
circuitos cerebrais que estavam sendo formados para que a
informação fosse decodificada. Ao iniciar outra atividade, como
falar ao celular, o cérebro vai ter que formar um novo circuito.
Esse vai-e-vem, que é muito desgastante, pode causar lapsos de
memória e dificultar a absorção e o processamento das
informações que estavam em curso.
Deixar-se levar pela avalanche de informações é uma das fontes
de danos ao cérebro. Mas não a única. Não concluir as
tarefas começadas pode ser muito pior. Atualmente, o telefone
celular passou a ser um dos principais elementos geradores de
permanentes interrupções nas atividades dos executivos.
Síndrome do Excesso de Informação ainda não é uma doença. Considerada
isoladamente, ela faz parte dos componentes do
stress associado ao trabalho. Mesmo assim, ela já começa a apresentar
características próprias.
Na medida em que a ansiedade no trato com a informação vai crescendo, o nível
de stress vai subindo, com conseqüências
mais graves para o nosso organismo. Começa com desordens do humor, com o
aumento da irritabilidade e continua com a
dificuldade para adormecer, distúrbios da memória até chegar a níveis elevados
de stress e desenvolvimento de um
comportamento neurótico.
É importante ressaltar que a origem do problema está na incapacidade das
pessoas em lidar com o excesso de informação e
não, obrigatoriamente, na quantidade de informações.
Profissionais, pressionados por chefes, gurus, consultores e outros mais, vivem
tendo a sensação de que não se sentem
capazes de assimilar todas as novidades em sua área, nem de lidar com todas as
informações que recebem. O sentimento de
obsolescência profissional é o que predomina.
Não satisfeitos em curtir sozinhos suas angústias, muitos profissionais acabam passando essa ansiedade para
seus filhos. Já
estão se tornando comuns depoimentos como o do jovem Ricardo Zalem, de 15 anos, que freqüenta um colégio
de ensino
médio, estuda inglês e espanhol, pratica voleibol, faz academia e tem aulas semanais de informática e violão.
“Eu só queria
ter tempo para fazer mais coisas, queria que a semana tivesse 10 dias e que o dia tivesse 36 horas”, diz Ricardo,
já candidato
aos efeitos da síndrome.
Processos de degeneração precoce da memória, que antes só apareciam em pessoas com mais de 50 anos,
agora, passam a
ser encontrados em pessoas com idade entre 20 a 40 anos. Especialistas do Grupo de Estudos em Linguagem da
USP
acreditam que tal fato se deva ao excesso de informações e estímulos que bombardeiam nosso cérebro
diariamente. São
informações cada vez mais rápidas, provenientes dos meios de comunicação, do telefone celular e,
principalmente, da
Internet. O problema acomete principalmente executivos e profissionais workaholics, que precisam estar sempre
bem
informados.
Um dos principais sinais de início da síndrome é quando você começa a demorar muito para se "desligar" das
atividades
diárias mesmo quando está fora delas. Exemplo: em casa, no final de semana, na companhia da família ou
diante da TV, você
não consegue tirar da cabeça o relatório que faltou fazer, o livro que gostaria de ter lido no fim de semana e não
leu ou
aquele dado do gráfico da companhia que não ficou bem compreendido.
Outra seqüela do excesso de informação é a
dificuldade na tomada de decisão. A imensa
quantidade de informações
disponíveis para tomar como base cada vez que
precisa decidir sobre algo, faz com que o indivíduo
sinta-se, cada vez mais
inseguro na hora de tomar decisões. Ele fica com a
sensação de que ainda poderia obter mais algumas
informações que lhe
dariam mais embasamento. Além de tudo, o tempo
para reflexão vai ficando cada vez mais escasso,
cedendo lugar para o
tempo gasto na absorção de mais e mais
informações.
Cybercondríacos
É a versão digital dos hipocondríacos. São pessoas que pesquisam os sinais e sintomas de determinadas
doenças na Internet
e passam a acreditar que a possuem. O pior é quando pesquisam sobre o tratamento e passam a se
automedicar.
Dataholics
Termo criado pelo professor Sabbatini da Unicamp, que serve para designar as pessoas que são “viciadas em
informação”.
São pessoas que só se sentem seguras após lerem a mesma informação em quatro ou cinco fontes, para checar
a veracidade
da mesma.
Bulimia Informacional
Termo que caracteriza a necessidade compulsiva pela coleta de informações, cada vez em maior quantidade,
geralmente de
forma pouco criteriosa. O bulímico informacional não se preocupa com a qualidade da informação da qual “se
alimenta”, mas
sente uma imperiosa necessidade de ficar sabendo de tudo o que se passa nas áreas em que atua.
Obesidade Informacional
Resultado da bulimia informacional, nesse caso, a obesidade refere-se ao excesso de informação desnecessária
ou pouco
relevante, que ao se acumular, prejudica a efetivação do aprendizado relativo às informações que realmente
seriam úteis ao
indivíduo.
Lemos
busca, seleção e leitura de informações deve ser precedida pelo estabelecimento de objetivos
bem definidos. Ou seja, antes
de ler qualquer coisa você deve responder as seguintes perguntas:
- Por que eu estou lendo este texto?
- Para que servirão estas informações?
- Qual o significado dessas informações no meu contexto de vida ou profissional?
- Como e com o que posso associar estas informações de forma a compreendê-las com mais
profundidade?
- Como posso dar aplicabilidade prática a estas informações?
No mínimo, as respostas a essas perguntas nos ajudariam a organizar nosso tempo e nosso
processo de aprendizagem. Mas
também poderá ajudar a dar a noção de sentido e prioridade ao que fazemos, de forma que,
certamente, passaremos a rever
a quantidade e a qualidade das informações que processamos.
A leitura de qualquer tipo de informação deve ser sucedida por um período de reflexão quanto
ao significado do material lido.
O processo de reflexão exige análise, associação, contextualização e síntese, de forma que ele
pode proporcionar não só a
criação de conhecimento original, como também auxilia o processo de fixação mnemônica do
conteúdo.
Sem isso, teremos a sensação de estarmos “absorvendo” muito, mas na verdade, estaremos
aprendendo pouco.
- Admita para você mesmo que você será um eterno aprendiz. Nunca
poderá nem precisará saber de tudo;
- Lembre-se sempre que você não precisa saber tudo, mas somente
como encontrar o que precisa. O mais importante, então,
não é acumular informações, mas aprender a localizá-las e inseri-las em
um contexto que faça sentido prático (aplicabilidade).
Vale mais saber como localizar e selecionar as informações sobre
determinado assunto do que tentar saber tudo sobre ele.
Quando você realmente precisar deste conhecimento, você pode
construí-lo com rapidez;
- Aprenda profundamente como funcionam os princípios e métodos de
organização das informações, para poder extrair delas
valor e significado. Descubra como a estrutura da informação está
organizada (num livro, numa revista, num jornal ou na
Internet), isto é a chave para a correta busca e seleção da informação;
- Compreenda que grande parte dos textos e sites na Internet dizem a
mesma coisa com outras palavras;
- Sempre estabeleça limites na busca de
informaçõ
- Sempre estabeleça limites na busca de
informações (cronológico e quantitativo);
- Procure aprender os melhores critérios de
seletividade. Não leia as informações
provenientes de boas fontes. Leia apenas as
de fontes excelentes. Priorização é a chave;es
(cronológico e quantitativo);
- Procure associar sempre idéias e conceitos com
fatos. Desta forma, a recuperação da informação será
sempre mais fácil;
- Ao invés de ler sempre todas as notícias e fatos que
lhe interessam, recorte-os e guarde em uma pasta,
separando-os por
assunto. Quando uma pasta, sobre determinado
assunto, tiver mais do que 50 recortes, leia-os todos
de uma vez. Com isso
você aprenderá a ter mais visão de conjunto, associar
informações com mais facilidade, e então, você
descobrirá o tempo que
você perdia lendo a mesma coisa em vários lugares
diferentes ou com outras palavras;
- Também é importante saber quem são as
pessoas-chave que poderão ajudá-lo a integrar e
contextualizar as informações
quando você precisar;
- Procure concluir as tarefas que começou. Cada
vez que você abandona uma atividade para fazer
outra (pára de ler um email
para atender ao telefone, por exemplo), o seu
cérebro interrompe a construção de circuitos
neuroniais necessários àquela
atividade para iniciar outra. Isso promove o
esquecimento da primeira tarefa e exige mais
energia do cérebro.
“É na adolescência que o sujeito se dá conta
do mundo onde ele vive. Como a infância é
cada vez mais protegida, é uma grande
bolha, existe um degrau muito alto entre a
saída da infância e a chegada no mundo
adulto, que acontece na adolescência. ”
A gente fica tomado nessa ideia do suicida
como herói romântico. Mas viver é que é
difícil. Heroísmo é sobreviver, é ficar no
mundo e ajudar os outros, não ir embora.”
Precisamos aprender e também ensinar às pessoas em
desespero que a rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da
vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós. Falando em termos
filosóficos, se poderia dizer que se trata de fazer uma revolução copernicana. Não
perguntamos mais pelo sentido da vida, mas nos experimentamos a nós mesmos
como os indagados, como aqueles aos quais a vida dirige perguntas diariamente e
a
cada hora - perguntas que precisamos responder, dando a resposta adequada não
através de elucubrações ou discursos, mas apenas através da ação, através da
conduta correta.
Em última análise, viver não significa outra coisa que arcar com a
responsabilidade de responder adequadamente às perguntas da vida, pelo
cumprimento das tarefas colocadas pela vida a cada indivíduo, pelo cumprimento
daexigência do momento. (FRANKL, p.48)
Essa exigência, e com ela o sentido da
existência, altera-se de pessoa para pessoa
e de um momento para o outro. Jamais,
portanto, o sentido da vida humana pode
ser definido em termos genéricos, nunca se
poderá responder com validade geral a
pergunta por este sentido. A vida como a
entendemos aqui não é nada vago, mas
sempre algo concreto, de modo que também
as exigências que a vida nos faz
sempre são bem concretas.
Ficamos conhecendo o ser humano como
talvez nenhuma geração humana antes
de nós. O que é, então, um ser humano? É o
ser que sempre decide o que ele é. É o
ser que inventou as câmaras de gás; mas é
também aquele ser que entrou nas
câmaras de gás, ereto, com uma oração nos
lábios. (Frankl, 54p.)
O que o ser humano realmente
precisa não é um estado livre de tensões, mas antes a
busca e a luta por um
objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida
livremente. O que ela necessita não
é descarga de tensão a qualquer custo, mas antes o
desafio de um sentido em
potencial à espera de seu cumprimento. O que o ser
humano precisa não é de
homeostase, mas daquilo que chamo de "noodinâmica",
isto é, da dinâmica
existencial num campo polarizado de tensão, onde um
pólo está representado por
um sentido a ser cumprido e o outro pólo, pela pessoa
que deve cumprir.
O vácuo existencial se manifesta principalmente num
estado de tédio. Agora podemos entender por que
Schopenhauer disse que, aparentemente, a
humanidade estava fadada a oscilar eternamente
entre os dois extremos de angústia e tédio. É
concreto que atualmente o tédio está causando e
certamente trazendo aos psiquiatras mais problemas
de que o faz a angústia. E estes problemas estão se
tornando cada vez mais agudos, uma vez que o
crescente processo de automação provavelmente
conduzirá a um aumento enorme nas horas de lazer
do trabalhador médio. Lastimável é que muitos deles
não saberão o que fazer com seu tempo livre.
(Frankl, 62p.)
Pensemos, por exemplo, na "neurose dominical", aquela espécie
de depressão que
acomete pessoas que se dão conta da falta de conteúdo de suas
vidas quando
passa o corre-corre da semana atarefada e o vazio dentro delas
se torna manifesto.
Não são poucos os casos de suicídio que podem ser atribuídos a
este vazio
existencial. Fenômenos tão difundidos como depressão,
agressão e vício não
podem ser entendidos se não reconhecermos o vazio existencial
subjacente a eles.
O mesmo é válido também para crises de aposentados e idosos.
Existem ainda diversas máscaras e disfarces sob os quais
transparece
Existem ainda diversas máscaras e disfarces sob
os quais transparece o vazio
existencial. Às vezes a vontade de sentido
frustrada é vicariamente compensada por
uma vontade de poder, incluindo a sua mais
primitiva forma, que é a vontade de
dinheiro. Em outros casos, o lugar da vontade de
sentido frustrada é tomado pela
vontade de prazer. É por isso que muitas vezes a
frustração existencial acaba em
compensação sexual. Podemos observar nestes
casos que a libido sexual assume
proporções descabidas no vácuo existencial.
"Diga-me, mestre, qual o melhor lance do mundo?"
Simplesmente não existe algo
como o melhor lance ou um bom lance à parte de uma
situação específica num jogo
e da personalidade peculiar do adversário. O mesmo é
válido para a existência
humana. Não se deveria procurar um sentido abstrato da
vida. Cada qual tem sua
própria vocação ou missão específica na vida; cada um
precisa executar uma tarefa
concreta, que está a exigir cumprimento. Nisto a pessoa
não pode ser substituída,
nem pode sua vida ser repetida. Assim, a tarefa de cada
um é tão singular como a
sua oportunidade específica de levá-la a cabo.
Uma vez que cada situação na vida representa um desafio
para a pessoa e lhe
apresenta um problema para resolver, pode-se, a rigor,
inventar a questão pelo
sentido da vida. Em última análise, a pessoa não deveria
perguntar qual o sentido da
sua vida, mas antes deve reconhecer que é ela que está
sendo indagada. Em suma,
cada pessoa é questionada pela vida; e ela somente pode
responder à vida
respondendo por sua própria vida; à vida ela somente
pode responder sendo
responsável. Assim sendo, a logoterapia vê na
responsabilidade (responsibleness) a
essência propriamente dita da existência humana.
Edith Weisskopf-Joelson, que em vida foi
professora de Psicologia na Universidade
da Georgia, afirmou em seu artigo sobre
logoterapia que "nossa atual filosofia de
higiene mental acentua a idéia de que as
pessoas deveriam ser felizes, que
infelicidade é sintoma de desajuste. Esse
sistema de valores poderia ser
responsável pela circunstância de o fardo da
infelicidade inevitável ser acrescido da
infelicidade pelo fato de a pessoa ser infeliz."
Cada época tem sua própria neurose coletiva,
e cada época necessita de sua
própria psicoterapia para enfrentá-la. O
vácuo existencial, que é a neurose em
massa da atualidade, pode ser descrito como
forma privada e pessoal de nulismo;
porque o nulismo pode ser definido como a
posição que diz não ter sentido o ser.
Antes de mais nada há um perigo inerente na doutrina do
"nada mais que" aplicado
à pessoa humana; a teoria de que o ser humano é "nada
mais que" o resultado de
condicionantes biológicos, psicológicos e sociológicos, ou
produto da
hereditariedade e do meio ambiente. Semelhante visão do
ser humano faz o
neurótico acreditar no que ele já tende a pensar de
qualquer forma, a saber, que é
um peão passivo e vítima de influências externas ou
circunstâncias internas. Este
fatalismo neurótico é fomentado e reforçado por uma
psicoterapia que nega
liberdade à pessoa humana.
Sem dúvida, o ser humano é um ser finito e sua liberdade é
restrita. Não se trata de
estar livre de fatores condicionantes, mas sim da liberdade de
tomar uma posição
frente aos condicionantes. Como eu disse certa vez: "Sendo
professor em dois
campos, neurologia e psiquiatria, sou plenamente consciente de
até que ponto o ser
humano está sujeito às condições biológicas, psicológicas e
sociológicas. Mas além
de ser professor nestas duas áreas sou um sobrevivente de
quatro campos -
campos de concentração - e como tal também sou testemunha
da surpreendente
capacidade humana de desafiar e vencer até mesmo as piores
condições
concebíveis."
A base para qualquer
previsão estaria constituída pelas condições
biológicas, psicológicas ou sociológicas.
No entanto, uma das principais características
da existência humana está na
capacidade de se elevar acima dessas
condições, de crescer para além delas. O ser
humano é capaz de mudar o mundo para
melhor se possível, e de mudar a si
mesmo para melhor se necessário.
O ser humano não é uma coisa entre outras; coisas se determinam mutuamente,
mas o ser humano, em última análise, se determina a si mesmo. Aquilo que ele se
torna - dentro dos limites dos seus dons e do meio ambiente - é ele que faz de si
mesmo. No campo de concentração, por exemplo, nesse laboratório vivo e campo
de testes que ele foi, observamos e testemunhamos alguns dos nossos
companheiros se portarem como porcos, ao passo que outros agiram como se
fossem santos. A pessoa humana tem dentro de si ambas as potencialidades; qual
ser concretizada, depende de decisões e não de condições.
Nossa geração é realista porque chegamos a conhecer o ser humano como ele de
fato é. Afinal, ele é aquele ser que inventou as câmaras de gás de Auschwitz; mas
ele é também aquele ser que entrou naquelas câmaras de gás de cabeça erguida,
tendo nos lábios o Pai-nosso ou o Shem Yisraet.
1. transformar o sofrimento numa conquista
e numa realização humana;
2. retirar da culpa a oportunidade de mudar a
si mesmo para melhor;
3. fazer da transitoriedade da vida um
incentivo para realizar ações responsáveis.
No que tange ao sentimento de falta de sentido, no entanto, não devemos
esquecer que, em si, ele não é uma questão de patologia: mais do que ser sinal e
sintoma de uma neurose, eu diria que é a prova da humanidade da pessoa. Mas,
embora não seja causado por nada patológico, este sentimento bem pode causar
uma reação patológica; em outras palavras, é potencialmente patogênico.
Pensamos na síndrome neurótica de massa tão presente na jovem geração: há
ampla evidência empírica de que as três facetas desta síndrome - depressão,
agressão, dependência de drogas - são devidas ao que se chama em logoterapia
(frankel 77)"o
vazio existencial", um sentimento de vacuidade e de falta de sentido.
EU NÃO TENHOS ENTIDO EU NÃO SOU FELIZ? OS OUTROS SÃO AMADOS E FELIZES
E EU NÃO SOU?
PQ NÃO SOU RICO, BONITO?
Não é necessário dizer que nem todo caso de
depressão pode ser atribuído a um
sentimento de falta de sentido. Tampouco o
suicídio - a que a depressão às vezes
leva a pessoa - sempre é resultado de um vazio
existencial. Contudo, mesmo que
todo e qualquer caso de suicídio não tenha sido
levado a cabo por causa de um
sentimento de falta de sentido, é bem possível
que o impulso de tirar a vida tivesse
sido superado se a pessoa tivesse estado
consciente de algum sentido e propósito
pelos quais valesse a pena viver.
Mais concretamente; esta utilidade é normalmente definida em termos de
funcionamento para o benefício da sociedade. Mas a sociedade de hoje se
caracteriza pela orientação do sucesso pessoal e, consequentemente, adora as
pessoas exitosas e felizes. Em particular, adora os jovens. Praticamente ignora o
valor de todos os que são diferentes e, ao fazê-lo, apaga a decisiva diferença
entre
ter valor no sentido de dignidade e ter valor no sentido de utilidade. Se não se
está
consciente desta diferença, mas se considera que o valor de um indivíduo nasce
apenas da sua utilidade atual - neste caso, acreditem-me, é apenas por
incoerência
pessoal que não se advogasse a eutanásia na linha do programa de Hitler. Isto é,
matar por "piedade" a todos aqueles que perderam sua utilidade social, seja
devido
à idade avançada, doença incurável, deterioração mental ou outra deficiência
qualquer. (Frankl, 81)
As redes sociais vem fazendo isso colocando a nível de histeria oe xibicionismo
de pessoas existosas e felizes???
A linguagem se apresenta como qualquer
sistema de signos, não 32 somente os vocais
ou escritos, como também os visuais,
fisionômicos, sonoros e gestuais, capaz de
servir à comunidade entre indivíduos.
(Messias, 31-32)
Viu-se que o homem é um ser social
comunicativo e informacional. Atua no
espaço, de forma a ajustá-lo as suas
necessidades físicas, emocionais, sociais e
culturais. A linguagem, faculdade de
expressão auxiliar no processo de interação e
adaptação do homem ao meio ambiente,
permite a ele manifestar suas idéias,
pensamentos e sentimentos, e assim, efetivar
os processos informacionais. (MESSIAS, p.42)
A linguagem é formada por um conjunto de
signos reconhecíveis, que ordenados mediante
uma convenção preestabelecida, conduz à
delimitação de uma mensagem, que pode ser
objetivada em algo fisicamente palpável se
incorporada a um suporte. Os suportes
constituem-se elementos de sustentação dos
signos e podem ser classificados em visuais,
sonoros, audiovisuais e objetos. Graças ao
suporte, a informação se consolida,
transformando-se em um documento, ou seja,
um objeto informativo. (MESSIAS, p.42)
O documento constitui-se fonte de investigação
para diversas áreas do conhecimento humano,
sendo de especial interesse para a Arquivologia,
Biblioteconomia, Direito, Documentação e
Diplomática, assumindo em cada uma delas um
propósito de análise diferenciado. É de extrema
relevância para a 43 constituição e evolução das
ciências, das técnicas e da sociedade, pois
materializa o pensamento humano servindo de
apoio às descobertas científicas que movimenta
todas as esferas da sociedade. MESSIAS, P.43
Pode-se notar essa evolução e abrangência, nas
palavras de Bellotto (1991, p. 14), cujo
documento se configura como sendo: [...]
qualquer elemento gráfico, iconográfico, plástico
ou fônico pelo qual o homem se expressa. É o
livro, o artigo de revista ou o jornal, o relatório, o
processo, o dossiê, a correspondência, a
legislação, a estampa, a tela, a escultura, a
fotografia, o filme, o disco, a fita magnética, o
objeto utilitário, etc., enfim, tudo o que seja
produzido por razões funcionais, jurídicas,
científicas, técnicas, culturais ou artísticas pela
atividade humana. (MESSIAS, p.44)
Na sociedade
contemporânea, o peso da informação e do
conhecimento na dinâmica capitalista,
tem ampliado sua valorização no mercado. Assim
sendo, a riqueza de uma nação
não mais se restringe a tonelagem anual de
matéria-prima ou de manufaturados
que possam eventualmente produzir, mas
engloba principalmente a quantidade
de informação e conhecimento que as
universidades e os centros de pesquisas
forem capazes de produzir, estocar e fazer
circular como mercadoria.
A informação também está diretamente
relacionada com a produção e o acúmulo do
conhecimento. Em seus estudos, Le Coadic
(1996) constatou que todos têm seus estados de
conhecimento sobre determinado assunto,
relacionado com o conceito que se tem do
mundo, entretanto quando constata-se alguma
deficiência desses estados de conhecimento,
encontra-se em um estado anômalo de
conhecimento, então para reverter essa situação,
tenta-se obter informação, a fim de corrigir essa
anomalia. Todo esse processo resulta em um
novo estado de conhecimento. (MESSIAS, p.58)
Mas independente da abordagem adotada para explicar o fenômeno
informação, é possível observar que ela comporta duas dimensões
intrinsecamente
relacionadas: uma dimensão física e objetiva e outra imaterial e
subjetiva.
De acordo com Buckland (1991) é possível identificar três grupos
distintos
acerca do conceito de informação para a Ciência da Informação:
a) Informação como coisa: compreende registros, dados e objetos com
algum valor informativo
b) Informação como conhecimento: entidade subjetiva, percepção,
assimilação e apreensão particular de fatos e eventos. Processo que
ocorre
na mente do indivíduo.
c) Informação com processo: faz referência ao processo mediante o qual
o
sujeito se informa. O ato de informar de comunicar fatos e a partir daí
estabelecer operações entre o mundo material e o imaterial.
Nessa perspectiva, o objeto de estudo da Ciência
da Informação em primeira instância poderia ser
representado pelo conteúdo de um documento,
na forma de registros físicos. Mas transcenderia
esse conceito, ao designar também os processos
mentais de atribuição de sentido que o sujeito
estabelece ao interagir com os estímulos
externos. Podendo corresponder também ao
processo mediante o qual o sujeito se informa,
através de dados acumulados com a própria
experiência, observação ou dados extraídos de
fontes documentais. MESSIAS p.96
O objeto de estudo da Ciência da Informação
seria então uma construção humana e social,
consolidada nos processos comunicacionais,
tendo como diferencial a possibilidade de
gerar conhecimento a nível individual e
coletivo.
A definição que Kobashi e Tálamo (2003, p.
19) elabora para a informação é muito similar
aos conceitos apresentados até o momento.
A informação, que se apresenta como objeto
de estudo da Ciência da Informação, é uma
estrutura significante que sintetiza os
conteúdos dos documentos, sob formas
diversas, segundo políticas e segmentos de
usuários.[...] o valor da informação consiste,
conforme já afirmado, em gerar
conhecimento
Mattos (1982, p. 108) ressalta a importância
da informação no processo de acumulação do
conhecimento. “Informação é uma mensagem
que permite aumentar nosso conhecimento
das coisas que nos cercam. A idéia de
informação está ligada à do aumento de
conhecimento, e está ligada a melhoria de
nosso comportamento, em nosso dia-a-dia”.
pode-se afirmar que a informação se
constitui uma prática social, envolvendo um
sujeito cognitivo que atribui e comunica
sentidos, gerando conhecimento para si e seu
grupo social.
abordagem da informação A abordagem da informação centrada na mensagem ou
teoria matemática da informação privilegia a teoria de
centrada na mensagem ou teoria Shannon & Weaver, que descreve o funcionamento de um
sistema mecânico, onde as mensagens emitidas pela fonte
matemática da informação são transmitidas por um canal a fim de serem recebidas
com o mínimo de deformação por um usuário. Nesse
contexto a importância está centrada no canal e na sua
capacidade de veicular mensagem a um custo baixo