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Idade Média

O (pre)conceito da I. M
• De fato, falarmos em I.M representa uma
rotulação a posteriori, uma satisfação da
necessidade de ser dar nome aos
momentos passados.
• Foi no século XVI que se elaborou tal
conceito, ou melhor, tal preconceito.
• O termo expressava um desprezo
indisfarçado em relação aos séculos
localizados entre a Antiguidade Clássica e
o próprio século XVI.
A I. M para os renascentistas
• O italiano Francesco Petrarca (1304-1374)
já se referira a este período como tenebrae.
Nascia assim o mito hagiográfico da Idade
das Trevas.
• Em 1469, o bispo Giovani Andrea,
bibliotecário papal, falava em media
tempestas, literalmente “tempo médio”.
Mas também com o sentido figurado de
“flagelo”, “ruína”.
• A ideia enraizou-se quando em meados do
século XVI Giorgio Vasari, numa obra
biográfica de grandes artistas do seu
tempo, popularizou o termo
“Renascimento”.
• O Renascimento é a idade da luz.
• A arte medieval, por fugir dos padrões
clássicos também era vista como grosseira,
daí o grande pintor Rafael Sanzio (1483-
1520) chamá-la de “gótica”, ou seja,
“bárbara”.
• Na mesma linha, François Rebelais (1483-
1553) falava da I. M como a “espessa noite
gótica”.
• Portanto, o sentido básico mantinha-se
renascentista: a I. M teria sido uma
interrupção no progresso humano,
inaugurado pelos gregos e romanos e
retomado pelos homens do século XVI.
• Também para o século XVII os tempos
medievais teriam sido de barbárie,
ignorância e supertição.
• Os protestantes criticavam-nos como
época de supremacia da Igreja Católica.
• Os homens ligados às poderosas
monarquias absolutistas lamentavam
aquele período de reis fracos, de
fragmentação política.
• Os burgueses capitalistas desprezavam tais
séculos de limitada atividade comercial.
• Os intelectuais racionalistas deploravam
aquela cultura muito ligada a valores
espirituais.
• O século XVIII, antiariatocrático e
anticlerical, acentuou o menosprezo à I.
M, vista como momento áureo da nobreza
e do clero.
• A filosofia da época, chamada de
iluminista por se guiar pela luz da Razão,
censurava sobretudo a forte religiosidade
medieval, o pouco apego da I. M a um
estrito racionalismo e o peso político que a
Igreja desfrutava.
• Denis Diderot (1713-1794) afirmava que
“sem religião seríamos um pouco mais
felizes”.
• Para Voltaire (1694-1778), os papas eram
símbolos do fanatismo e do atraso daquela
fase histórica.
• A Igreja era chamada de “a Infame”.
A I. M para o século XX
• Já no século XX, alguns historiadores
passaram a ver a I.M com os olhos dela
própria, não com os daqueles que viveram
ou vivem noutro momento.
• Entendeu-se que a função do historiador é
compreender, não a de julgar o passado.
• Logo, o único referencial para se ver a I.M
é a própria I.M.
• Isso não apenas deu grande prestígio à
produção medievalística nos meios cultos
como popularizou a I.M diante de um
público mais vasto e mais consciente do
que do século XIX.
• O que não significa que a imagem negativa
da I. M tenha desaparecido.
• Também não quer dizer que os
historiadores do século XX tenham
resgatado a “verdadeira” I.M.
• “A história é filha de seu tempo”, por isso
cada época tem sua Grécia, sua Idade
Média e seu Renascimento.
• Feitas essas ressalvas metodológicas
obrigatórias, o que devemos entender por
Idade Média, pelo menos no atual
momento historiográfico?
• Trata-se de um período da história
europeia de cerca de um milênio, ainda
que suas balizas cronológicas continuem
sendo discutíveis.
• Seguindo uma perspectiva muito
particularista (às vezes política, religiosa
ou econômica), já se falou, dentre outras
datas, em 330 (reconhecimento da
liberdade de culto aos cristãos); em 392
(oficialização do cristianismo); em 492
(deposição do último imperador romano);
e em 698 (conquista mulçumana de
Cartago) como ponto de partida da I.M.
• Para seu término, já se pensou em 1453
(queda de Constantinopla e fim da Guerra
dos Cem Anos); 1492 (descoberta da
América) e 1517 (início da Reforma
Protestante).
• Sendo a História um processo,
naturalmente se deve renunciar à busca
de um fato específico que teria inaugurado
ou encerrado um determinado período.
A grande crise de passagem do
mundo medieval
• Duas vidas que sucederam imediatamente
uma à outra – São Tomás nasceu em 1224,
dois anos antes da morte de São Francisco
– em uma época decisiva para a história
europeia, a passagem da Alta para a Baixa
Idade Média.
• O século XIII foi realmente uma época fora
do comum na história europeia, época de
crise.
• Crise no sentido que Hipócrates, o pai da
medicina, empregou ao vocábulo. Ou seja,
momento de paroxismo mórbido, em que
é possível discernir a doença e desvendar
o futuro do doente.
• A partir do século XI, quando a cristandade
conhecia o seu período de fastígio, a
Europa ocidental viveu uma crise de
passagem da Alta para a Baixa Idade
Média, do mundo antigo para o mundo
moderno.
• Três grandes movimentos de
transformação social confluíram para esse
resultado:
1. A reforma religiosa;
2. A revolução comercial;
3. O ressurgimento da vida intelectual no
Ocidente, com a criação das primeiras
Universidades.
1 Reforma religiosa
• A reforma religiosa, como todo movimento
de ampla transformação, apresentou dois
aspectos interligados: a mudança
institucional e o surgimento de uma nova
mentalidade e de novos modos de vida.
• Foi sob o pontificado de Gregório VII (1073-
1085) que as principais reformas
institucionais foram decretadas. Elas
visavam três objetivos bem determinados:
1. Assegurar a independência da Igreja em
relação ao poder temporal;
2. Abolir a prática de simonia, i.é, a vende
de serviços religiosos;
3. E frear a incontinência sexual do clero,
que não raro constituíam famílias sem
deixar as ordens sacras.
• O princípio proclamado era a volta às
origens, como restabelecimento da
primitiva forma eclesial.
• As respostas a essas mudanças foram
imediatas.
• No final do século XII surgiram novas
ordens religiosas, cuja ação transformou a
vida social em toda a Europa do Ocidente.
• Em 1084 surgem os cartuxos; e em 1098
os cistercienses. Esses grupos dão maior
vigor à Igreja.
• Entre os cônegos há a volta ao espírito
original de santo Agostinho, que tem por
objetivo um maior equilíbrio entre a vida
ativa e a vida contemplativa.
• Mas foi entre os leigos que o espírito
reformador produziu seus melhores frutos,
no tocante a uma mudança de
mentalidade.
2 Revolução comercial

• A partir do século XII, como foi salientado,


o renascimento do comércio
mediterrâneo pôs fim ao isolamento em
decorria a vida social em toda a Europa.
• Até a Alta Idade Média, na passagem do
século X ao século XI, a Europa viveu
concentrada sobre si mesma, sem nenhum
contato com o Oriente.
• A retomada da navegação cristã no
Mediterrâneo, entre os séculos XI e XII,
provocou uma profunda transformação da
sociedade Europeia.
• A reativação do comércio em toda orla
marítima e o restabelecimento das
relações de troca com a Ásia Menor
engendraram uma extraordinária
expansão da vida urbana e lançaram as
bases do primeiro surto capitalista.
3 O ressurgimento da vida
intelectual
• Tudo isso constitui a base material para a
eclosão de uma Proto-Renascença, com a
descoberta dos grandes textos da cultura
clássica em circulação pelos árabes a partir
do reino da Granada, no extremo
meridional da península ibérica.
• Esse ressurgimento intelectual encontrou,
a partir do século XI, o seu ponto de
fixação institucional nas universidades,
corporações autônomas de mestres e
estudantes, dotados de estatuto próprio, e
dedicadas inteiramente ao estudo e
ensino.
• A grande originalidade das universidades,
no meio medieval, foi o fato de elas
reunirem homens de todos os estratos
sociais, naturais de vários países, homens
que passaram a construir o status
studentium, onde se apagava a separação
formal entre religiosos e não religiosos,
dando-se novo sentido ao laicato.
São Francisco de Assis

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