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Semiárido em foco - INSA

Indicadores Socioculturais com foco em


territórios semiáridos: aspectos
epistemológicos e metodológicos
27.09.2013
Prof. Dra. Alicia Ferreira Gonçalves (UFPB)
aliciafg1@hotmail.com
INTRODUÇÃO
DEFINIÇÕES E APLICAÇÃO

O termo “indicador” é originário do latim indicare,


que significa descobrir, apontar, anunciar, estimar
(HAMMOND et al., 1995)
INDICADOR é uma ferramenta de avaliação de PP
ou Programas
Indica, estima, sinaliza e mensura desempenho da
PP
Indicadores se dividem em: quantitativos (PIB) e
qualitativos (IDH), Felicidade Interna Bruta (FIB)
INDICADORES: APLICAÇÃO
 “São instrumentos que auxiliam a aferir e julgar, de
forma clara e incontroversa, o nível de desempenho,
eficiência e eficácia dos programas e projetos”
“Um indicador é uma medida quantitativa que
operacionaliza os conceitos abstratos utilizados na
análise e julgamento do mérito e desempenho dos
programas”
Pode ser utilizado na avaliação ex-ante e ex-post
INDICADORES: definições
 “O indicador é uma variável quantitativa ou
qualitativa que proporciona um meio simples e
confiável de medir as realizações de um
programa ou padrão de desempenho de uma
instituição, tendo como referência os objetivos
estabelecidos no planejamento inicial”
Estamos alcançando os nossos objetivos?
Quando alcançarmos o sucesso, como vamos
reconhecê-lo? Ex: “nota do provão” – medida
que mede o conhecimento
I Breve história dos indicadores
O desenvolvimento de indicadores está
estreitamente ligado ao desenvolvimento das
forças produtivas capitalistas desde a
revolução industrial inglesa e à constituição
das Ciências Sociais entre os séculos XVIII e
XIX (HOLANDA, 2006, p. 219)
Questão social: altos índices de mortalidade
devido ao crescimento acelerado das cidades
Ex: de indicadores, Taxa de mortalidade
Desenvolvimento e a revolução
keynesiana (1945-1960)
O desenvolvimento da ciência dos indicadores se
desenvolve no contexto da revolução keynesiana
norte-americana que criou a moderna
macroeconomia em consonância com o modelo de
acumulação capitalista que se formou nos centros
hegemônicos (E.U.A. Canadá, Japão e Europa
Ocidental) após a segunda guerra mundial até
meados da década de 1960.
Década de 1950-1960

Nesse período a ciência dos indicadores se


inspirou nas teorias funcionalistas e na
perspectiva do desenvolvimento econômico
acelerado via industrialização. Neste sentido,
“Numa visão funcionalista, os indicadores
sociais são elementos de promoção ou
afirmação do sistema, sem atingir a estrutura do
mesmo” (MEGALE, 1976, P. 669). Ex: corrida
espacial
Crise econômica e fiscal do Estado
1965 e o movimento pós-moderno
1965 – questionamento das políticas
macroeconômicas, desmonte do welfare-state
Movimentos sociais de protestos nos EUA contra a
guerra do Vietnã, movimento hippie, movimento
estudantil na França, movimento negro e feminista na
Inglaterra
Questionamento de indicadores quantitativos a
exemplo do PIB
O Estado passa a ser alvo da avaliação = lei de
Resultados e Desempenho do governo de 1993 nos
Estados Unidos
II “Os limites do crescimento”1972 e o
debate sobre novos indicadores
Entre 1960 e 1970 inicia o debate sobre a produção de
indicadores sociais alternativos na França
Relatório Meadowns (1972) Clube de Roma
Relatório de Brundtland (1987) desenvolvimento
sustentável – concilia econômico e ambiental
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) pelo
Programa das Nações Unidas no ano de 1990, estão
postas as condições para o desenvolvimento gradativo
das experiências de produção dos indicadores sociais
alternativos
Os limites do crescimento
 IDH idealizado pelo paquistanês Mahbub ul Haq
orientado por Amartya Sen é considerado o grande
contraponto ao PIB, porque se trata de um indicador
que remete a contextos locais e considera outras
dimensões além da econômica. O IDH é uma medida
conjunta de três dimensões: esperança (expectativa)
de vida, taxa de alfabetização e rendimento de
paridade do poder de compra, este índice tornou-se
referencia mundial para as questões relacionadas ao
desenvolvimento humano (SIMÃO et al, 2010, p. 121).
Crise econômica e a desigualdade
de renda -2000
Questiona-se “o sistema de medidas e de
representação da realidade social, profundamente
impregnado pelos critérios financeiros e
monetários” (ARREGUI, 2012, P.540). Neste cenário
de crise econômica se articula um movimento em
direção à formulação de indicadores sociais
alternativos e por novas formas de representação e
de mensuração social. Pois é, neste quadro de
discussões epistemológica sobre indicadores que a
pesquisa de avaliação dos PaPPS se insere
Fundos Rotativos Solidários (FRS) e a
Pesquisa de Avaliação (2008)
Objetivo central era analisar a efetividade dos Projetos
de Apoio a Projetos Produtivos Solidários (PAPPS)
usando a metodologia de Fundos Rotativos Solidários
(FRS) (financiados pelo BNB) em cinco projetos
envolvendo dezenove comunidades rurais situadas no
litoral sul, agreste e alto sertão do Estado da Paraíba.
90% no semiárido. Financiamento do BNB e CNPq
Para avaliar a efetividade foram mapeados e
construídos indicadores locais- territorializados -
socioculturais
Caracterização do semiárido
A expressão “semi-árido” é utilizada comumente para designar
um tipo climático caracterizado por forte insolação,
temperaturas relativamente altas e um regime de chuvas
marcado pela escassez, irregularidade e concentração das
precipitações num curto período. A esse tipo climático
corresponde a formação vegetal de Caatinga, formação
lenhosa, caracterizada por uma máxima adaptação dos
vegetais à carência hídrica, com espécies, na sua maioria,
caducifólias, espinhosas, com folhas pequenas ou de lâminas
subdivididas, existindo, inclusive, algumas sem folhas (áfilas)
para reduzir ao máximo a perda de água por transpiração. A
sua fisionomia varia de acordo com as condições climáticas e
edáficas (MOREIRA & TARGINO, 2007)
Bioma Caatinga
 A Caatinga é o maior bioma da região Nordeste e o único exclusivamente
brasileiro. Cerca de 28 milhões de pessoas habitam a Caatinga, fazendo
dessa região uma das mais densamente povoadas entre aquelas de
características climáticas similares no mundo.
 Parte desse contingente vive sob grande vulnerabilidade social e
econômica. É na Caatinga que vive a população mais pobre do Nordeste e
uma das mais pobres do Brasil, e que o quadro de pobreza da região gera
uma significativa dependência dessa população em relação aos recursos
naturais do bioma;
 A conservação e uso sustentável dos recursos naturais da Caatinga são
imprescindíveis para
 o desenvolvimento da região e a melhoria da qualidade de vida da
população;
 Apesar da riqueza biológica, majoritariamente desconhecida, a Caatinga é o
bioma
 brasileiro menos protegido e pesquisado; (Declaração da Caatinga, 2012)
Perfil dos participantes do Programa
1. São famílias assentadas da reforma agrária, neste
sentido, a mobilização política pela terra é um fator
preponderante na configuração de suas identidades e
efetiva é a atuação do STR. 85% são casados, ou
declararam união estável com dois ou três filhos.
2. 4 anos de Escolaridade formal e uma taxa elevada de
analfabetismo (50%). As crianças frequentam a escola
por causa do Programa Bolsa Família (PBF), mas os
jovens encontram dificuldade de acesso à rede pública
de ensino porque precisam trabalhar e auxiliar na
renda familiar e devido à distância das escolas de
ensino médio. Poucos frequentam a universidade.
Perfil das famílias rurais
3.A atividade econômica é a agricultura familiar
para subsistência (80%) e o excedente para
comercialização (20%). As comunidades do alto-
sertão e Agreste vendem seus produtos
diretamente ao cliente final nas feiras solidárias
do município
4. As famílias não têm o domínio da cadeia
produtiva, porque vendem ao atravessador e não
há canais de comercialização nas comunidades, é
uma limitação de ordem estrutural para a
efetividade do FRS no que tange ao incremento
da renda familiar
Sobre a finalidade dos indicadores
 A finalidade dos indicadores é revelar as condições
locais de vida das comunidades e suas ressonâncias
nas políticas e vice-versa, e, estimar a distância ou
proximidade da sustentabilidade de seus territórios e
empreendimentos econômicos. É importante realçar
que os indicadores foram mapeados baseados nos
relatos dos pequenos produtores rurais a partir de
2006 no semiárido cearense e a partir de 2009 na
Paraíba. Neste sentido os indicadores nos revelam as
dimensões por eles consideradas estratégicas para a
expansão dos seus empreendimentos econômicos e o
desenvolvimento de seus territórios.
Indicadores socioculturais
1. Domínio do ciclo produtivo e APL
 O domínio do ciclo produtivo e a potencialização de
atividades econômicas acessando recursos do
bioma ou da tradição cultural– contribui para a
efetividade do Programa (PAPPS)
Ex: apicultura, horta orgânica, viveiro de mudas,
criação de animais, artesanato, cerâmica (Quilombo
Serra do Talhado em Santa Luzia)
2. Organização política e organização
do trabalho
 Quanto maior for o grau de organização política do
grupo maior será sua capacidade de se articular em
rede com outras entidades para o escoamento de
sua produção ex: Agreste Projeto de Lei de iniciativa
popular para institucionalizar a Feira Agroecológica

 Quanto maior a capacidade do grupo de organizar o


trabalho segundo princípios do associativismo ou
cooperativismo maior será a efetividade do
Programa
3. Estilo da liderança local e
Relações de poder local
Lideranças mais democráticas e transparentes
fazem circular as informações e permitem o
debate e a participação do grupo – maior será a
efetividade do Programa e a capacidade do grupo
de se articular em rede e acessar as PP – PAA e
PNAE
Lideranças com capacidade de articulação em
rede pressionam as gestões municipais, estaduais
e federal
ESTILOS DE LIDERANÇA
ESTILO DE LIDERAÇA
Acauã
Estilo de Liderança Litoral Sul
4. Território, lutas sociais Identidade &
Simbolismo
Grau de identidade de interesses em jogo
Grau de identificação com um movimento
Grau de identificação com a agricultura familiar de
base agroecológica
O que representa a terra e a agricultura em minha
visão de mundo? Qual o simbolismo forte?
O que me torna um agricultor familiar em território
semiárido por contraste ao agricultor de base
familiar no Sul e Sudeste? O que constitui a minha
identidade?
5. Acesso às tecnologias
produtivas, energéticas e hídricas
 Acesso às tecnologias de armazenamento da água
são fundamentais para o êxito de qualquer PP em
territórios semiáridos – cisternas de placa, cisternas
calçadão, barragens subterrâneas dentre outras
 Acesso às novas tecnologias de cultivo – transição
agroecológica
 Acesso às fontes alternativas de energia – eólica,
solar
6 Institucionalidade
A observância do marco legal pelas gestões
municipais, estaduais e federal é fundamental para o
escoamento da produção familiar
Pressão e articulação dos grupos organizados
politicamente é fundamental para acessar as PP´s
7 Articulação com outras PP´s
Articulação entre o Programa em foco e
outras Políticas Públicas é fundamental
Ex: Fundos Solidários e PBF
Fundos Solidários e PNAE
8 Acesso à rede pública de ensino

 Acesso ao sistema público de ensino contribui para


maior efetividade do Programa com foco nas novas
gerações

Ex: até a idade de corte do PBF os filhos frequentam a


escola, já o acesso ao ensino médio e superior é
limitado – este fato compromete a efetividade de um
Programa de desenvolvimento sustentável e do PBF
9 Gênero
Participação massiva das mulheres amplia o foco
do Programa para além da inclusão produtiva via
FRS
Debate de questões de gênero articulado à
agroecologia no Território da Borborema
Transmissão de valores de convivência com o
semiárido para a geração futura
Transmissão de saberes para futuras gerações ex:
viveiro de mudas, banco de sementes
Transmissão de novas relações Homem-Natureza
10 REPRESENTAÇÕES SOBRE O
PROGRAMA OU POLÍTICA
Como o grupo significa ou ressignifica no plano
simbólico a PP ou Programa?
Perspectiva assistencialista?
Perspectiva emancipatória?
Ex: no semiárido cearense assentados ressignificavam
a política de crédito solidário a partir de uma lógica
patrimonialista e personalista e não da perspectiva
dos movimentos sociais de luta e resistência agrária
Agricultura Familiar
Domínio da Cadeia Produção Subsistência Feira local
Apicultura
Produtiva Venda direta do excedente PAA
Horticultura

Liderança democrática e Vice-Prefeito e líder do STR é Independências das práticas políticas


Estilo da liderança
legitima do assentamento locais e valorização do próprio grupo

Família e
Identidade Identidade com a agricultura Solidariedade Coletividade
e com a terra
Domínio de Tecnologias de Convivência com a seca no
Cisternas e carros pipa Melhor capacidade de subsistência
armazenamento da água Alto- Sertão
Programa Bolsa Família e
Redes de Proteção Social Pronaf Melhoria da renda familiar
Aposentadoria
Domínio de Novas Técnicas produtivas
FRS Mandala Comunitária
Tecnologias de Cultivo Cultura agroecológica
Ensino Fundamental para Ensino Médio há
Acessibilidade à rede Transporte (precário) para ir a Escola de
jovens e adultos em algumas aproximadamente 4 km das
pública de ensino Ensino Médio
comunidades comunidades
Institucionalidade Prefeitura PAA PAA
Grau de identificação

Município

Sítios

Comunidade

Vizinhança

Família
Grau de coesão social

SÍTIO

MUNICÍPIO

ESTADO
Metodologia
Técnicas de pesquisa
1. Pesquisa bibliográfica relativa à temática da investigação,
2. discussões teóricas e metodológicas,
3. Planejamento da pesquisa de campo com ASA/PB, PATAC e
BNB – definição da amostra e do questionário
4. Pesquisa de campo em dezenove (19) comunidades rurais
(assentamentos e sítios), dez em território semiárido
5. Aplicação de questionários e realização de entrevistas em
profundidade
6. sistematização, classificação e análise dos dados.
Amostra da pesquisa
A definição da amostra obedeceu também a critérios
de intencionalidade: facilidade de acesso à
comunidade, condições básicas para a realização da
pesquisa (hospedagem), custos da pesquisa tendo em
vista os recursos disponíveis e a aceitação da pesquisa
pela comunidade.
Metodologia semiótica &
hermenêutica
Etnográfica: considera na análise a visão de mundo
das pessoas que participam do Programa em foco,
bem como, os significados que lhe atribuem. Neste
sentido, sua perspectiva epistemológica é
hermeneuta e semiótica, porque analisa as diversas
visões sobre a política: 1) institucional; 2) entidade de
mediação 3) comunidade e 4) campo intelectual. Isso
significa que os relatos êmicos coletados nas
entrevistas se constituem como um componente
fundamental na análise, assim como, a observação
do contexto onde se desenrola a experiência com os
Fundos.
Metodologia: campo
Observação direta
Conversas informais
Entrevistas com atores sociais envolvidos na PP
Registros visuais
Ponto de vista do grupo é componente central na
análise e avaliação da efetividade do Programa
Metodologia e Fusão de Horizontes
A metodologia foi desenhada em conjunto com os
movimentos sociais, entidades e investigadores que
atuam no campo da economia solidária e das finanças
solidárias
Envolve um constante ir e vir – diálogo constante com
os atores sociais
Discussão dos resultados da pesquisa e o retorno às
comunidades – Fusão de Horizontes (Cardoso de
Oliveira, 2006)
Indicadores são fruto da fusão de horizontes
Referências
 ARREGUI, Carola C. o debate sobre a produção de indicadores sociais
alternativos. Demandas por novas formas de quantificação. São
Paulo, Serv. Soc., n 111, jul/set. 2012. p.529-554
 GONÇALVES, Alicia Ferreira. Experiências em economia solidária no
Estado do Ceará. Campinas: Editora CMU/ARTESCRITA, Unicamp,
2009.
 ______. Experiências em economia solidária e seus múltiplos
sentidos. Florianópolis, Katálisys, v.11, n.1, Jan/Jun, 2008. p. 132-142.
 GONÇALVES, Alicia; SOUZA Celly dos Santos. Indicadores locais de
sustentabilidade e a avalição de políticas sociais: contribuições para a
gestão pública In: AGUIAR, Sylvana Maria Brandão de; MORAES,
Alfredo (Orgs). Gestão Pública: práticas e desafios. v. 4. recife: Editora
Universitária, 2010.
 HOLANDA, Nilson. Avaliação de Programas. Conceitos básicos para
uma avaliação “ex-post” de programas e projetos. Fortaleza, ABC
Editora, 2006.
Referências
 HAMMOND, A et al. Envirommental indicators: a systemaci approach to
measuring and reporting on environmental policy performance in the
context of sustainable deveolpment. Washington, D.C,: World Resources
Institut , 1995.
 LEJANO, Raul. Parâmetros para Análise de Políticas. Campinas: Editora
Artescrita, 2012.
 MOREIRA, Emília., and TARGINO, Ivan. 2007. “De território de exploração
a território de esperança: organização agrária e resistência camponesa no
semi-árido paraibano”. Revista Nera, 10 (10): 72-93.
 OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O trabalho do antropólogo. São Paulo:
Unesp, 2006.
 SANTAGADA, Salvatore. Indicadores sociais: Contexto Social e Breve
Histórico. Disponível em
<http://revistas.fee.tche.br/index.php/indicadores/article/viewFile/758/1013
>. Consulta em: 7.out.2012.
 SIMÃO, Ângelo Guimaraes et al. Índices para o desenvolvimento
sustentável In: SILVA, Christian Luiz da; SOUZA-LIMA, José Eduardo
(Orgs.). Politicas Publicas e indicadores para o desenvolvimento sustentável.
São Paulo: Editora Saraiva, 2010. P. 117- 160.
Material produzidos pelas artesãs: Sitio Tigre

Fonte: Pesquisa FRS, 2010


Café Orgânico produzido em
Chiapas/México
Casa de Ednaldo e família Litoral Sul
sítio rural quilombola
Apicultura Conde PB
Experiências na Amazônia
Viveiro de Mudas Acauã Alto-Sertão
Feira Agroecológica Alto Sertão

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