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NM8010 Introdução ao Método dos Elementos Finitos aula 4

Prof. Renato Marques de Barros

3. MÉTODO DE RAYLEIGH-RITZ E ELEMENTO DE BARRA 1D

3.1 Energia armazenada em sistemas elásticos lineares


Em sistemas contínuos, a energia potencial armazenada na forma de tensões varia ponto a
ponto. Assim, da mecânica dos sólidos, temos:
 
 
  U  U dV  1                  dV  1   T   dV  0

V
vol
2 V
x x y y z z xy xy xz xz yz yz
2 V

onde {} é o tensor de tensões, {} o tensor de deformações e ‘T’ indica o transposto de uma
matriz ou vetor. Em suas dimensões, a equação acima fica:
 x 
U   U vol dV 
1
2 V
 
x x   
y y   
xy xy dV 
1

2 V
x y    1
 xy .  y dV       dV  0
2V
T

V  
 xy 
Considera-se agora o elemento prismático mostrado na figura abaixo com área transversal
A=A(x), onde uma das dimensões (L) é muito maior que as demais e que se encontra sujeito
apenas ao carregamento axial F.

Uma aproximação razoável, desde que a dimensão L seja suficientemente grande para
validar a hipótese de Saint Venant, é considerar que as tensões normais variam apenas ao
longo do comprimento da barra e, portanto, =(x). Tem-se, portanto:
L
1 1
U barra   U vol dV     dV     A(x) dx  0
V
2V 20

Hipóteses de linearidade para a barra:


Admitindo que o material da barra tem comportamento linear e homogêneo e que as
deformações são pequenas quando comparadas com a dimensão original, pode-se empregar
a costumeira lei de Hooke = Eε = E du :
dx
L L 2
1 1  du 
Ubarra   σ ε A(x) dx     E.A(x) dx
20 2 0  dx 
e, finalmente, para o caso de uma barra de área uniforme A(x) = A, tem-se:
L 2 L 2
1  du  1  du 
U barra     E.A(x) dx  AE    dx
20  dx  2 0  dx 

Funcional Π para a barra linear:


Aplicando as hipóteses de linearidade, pequenas deformações, homogeneidade e seção
uniforme, o funcional Π para a barra é:
L 2
1  du 
  U barra  W  AE    dx - F1u1  F2 u 2
2 0  dx 

DEFINIÇÃO: FUNÇÃO-TENTATIVA CINEMATICAMENTE ADMISSÍVEL

Qualquer função u(x) não nula que:

a) cumpre as condições de contorno impostas


b) é contínua por partes no intervalo fechado [0, L]

é chamada função-tentativa cinematicamente admissível.

A utilização de funções-tentativa no problema variacional dá origem a soluções-tentativa


cinematicamente válidas do ponto de vista do método dos elementos finitos. Assim, qualquer
solução do problema variacional que utiliza uma função-tentativa é uma aproximação da
solução do problema variacional.
A classe de funções-tentativa mais utilizada no MEF são os polinômios, devido à facilidade
com que são integrados e diferenciados.

3.2 Exemplo
Para mostrar o uso de funções-tentativa no MEF, vamos considerar o exemplo abaixo, no qual
uma coluna linear e homogênea de comprimento 2L e de área uniforme A é submetida a uma
força concentrada F aplicada no seu ponto central.
O objetivo deste exemplo é determinar (x) e ε(x) ao longo do comprimento da coluna.

Chamando o deslocamento no ponto central u(L) = uL O variacional Π associado à coluna é:


2L 2
1  du 
  U  W  AE    dx  Fu L
2 0
dx 
A principal dificuldade que encontramos logo de início é que não se conhece a priori a forma
como os deslocamentos u(x) variam ao longo da coluna. Sendo assim, para encontrarmos uma
solução para este problema devemos, antes de mais nada, encontrar uma forma apropriada
para u(x). Esta forma é conhecida como função-tentativa.

Analisando o problema, vemos que u(x) deve satisfazer as condições de contorno u(0)=0 e
u(2L) = 0 e, portanto o nosso problema variacional pode ser colocado da seguinte forma:
2L 2
1  du 
˝ encontrar o mínimo de   AE    dx  Fu L com u(x) sujeito a u(0)=0 e u(2L) = 0 ˝
2 0
dx 

Uma vez que a solução deste problema depende da expressão de u(x) empregada, existirão
infinitas soluções possíveis pois a escolha de u(x) é bastante arbitrária.

Voltando ao nosso problema original, iremos desenvolver algumas funções-tentativa para o


problema da coluna sob carga concentrada e ver como a escolha de diferentes funções
influencia o resultado do problema variacional.
 x
u ( x )  ax 2  bx  c u
 L L
para 0  x  L
u(x)  
 x
u L  2   para L  x  2L
  L

Inicialmente usaremos uma função polinomial do tipo u(x)=ax 2 + bx + c onde a,b e c são
escolhidos de forma que a função-tentativa seja cinematicamente admissível, ou seja, u(0)=0,
u(L) = uL e u(2L) = 0.
 u(0)  0  c  0
 uL 2u L
u(2L)  0  4L a  2Lb  0
2 a , b  ,c 0
L2 L
 u(L)  u  2La  Lb  u
 L L

Portanto:
2 2L 2
x x du 2u x  1  2u  x  
u ( x )   u L    2u L     L   1    AE    L   1 dx  Fu L
L L dx L L  2 0
L  L 
4 AE 2
e, portanto, após a realização da integral:     u L   u L  Fu L
3 L
Pelo teorema do mínimo do funcional Π tem-se:
d 8 AE 3 FL
 uL  F  0  uL 
du L 3 L 8 AE

Devemos observar que a utilização de uma função-tentativa permite discretizar o variacional,


isto é, inicialmente a solução do problema envolvia a determinação de uma função u(x) que
representava os deslocamentos axiais ao longo da coluna. No final, a solução do problema
envolvia a determinação de um parâmetro uL que representa o deslocamento do ponto
central.

Esse conceito de simplificação ou redução é, talvez, o mais importante do método dos


elementos finitos. De acordo com esta técnica, os deslocamentos de todos os pontos
interiores da coluna ficam condicionados à determinação do deslocamento central.

Portanto:
  3 FL  x  2 x 
2
du 3 F x  3 Fx 
u( x )        ε( x )     1  σ ( x )  E ε     1
8 AE  L  L  dx 4 AE  L  4 A L 

ou, graficamente :
Uma outra alternativa para a solução deste problema é utilizar a seguinte função-tentativa:
 x  uL
para 0  x  L
du   L para 0  x  L
 u L
u(x)   L 
 x dx  u L para L  x  2L
u L  2   para L  x  2L
  L  L

e devemos observar que a função u(x) é contínua no ponto x = L. Isso equivale a dividir o
intervalo de integração em duas partes (ou intervalos) e, portanto, o funcional Π pode ser
expresso como:
L 2 2L 2
1  du  1  du 
Π  U1  U2  W  AE    dx  AE    dx  FuL
2 0
dx  2 L
dx 
Portanto:
L 2 2L 2
1  u  1  u  1 AE 2 1 AE 2 AE 2
Π  AE   L  dx  AE    L  dx  FuL  uL  uL  FuL  uL  FuL
2 0  L  2 L  L  2 L 2 L L

Pelo teorema do mínimo do funcional Π tem-se:


AE 2 d 2AE 1 FL
   u L   u L  Fu L   uL  F  0  uL 
L du L L 2 AE
e, de forma análoga:
 x  F  F
 u L L para 0  x  L du  2AE para 0  x  L

  para 0  x  L
u(x)       E   2A
 x dx  F para L  x  2L 
F
para L  x  2L
u L  2   para L  x  2L  2A
  L  2AE
O segundo resultado é idêntico ao fornecido pela Resistência dos Materiais e, portanto,
podemos tomá-lo como exato.

Comparando os dois resultados podemos concluir que:

a) soluções-tentativa que tentam obter uma resposta global geralmente fornecem resultados
menos precisos que aquelas baseadas em respostas definidas localmente.

b) soluções-tentativa que tentam obter uma resposta global geralmente são mais
complicadas que aquelas definidas localmente e exigem mais esforço para o cálculo.
3.3 O Método de Rayleigh-Ritz
Este método representa uma formalização na construção de soluções-tentativa. Seja f(x) uma
função que se deseja aproximar em um intervalo [0, L] onde são conhecidos os pares (x 1, f1) ,
(x2, f2) , (x3,f3), ... , (xn,fn). A função f(x) pode ser aproximada por:
f (x )  N1 ( x ).f1  N 2 ( x ).f 2  N3 (x ).f 3  ...  N n ( x ).f n
onde N1, N2, ...,Nn são funções de interpolação e f1 , f2 ,... , fn são os valores de f(x) nos pontos
x1 , x2 ,... , xn
A propriedade associada às funções de forma no método do Ritz é:

1 se i  j
N i (x j )  
0 se i  j
As funções de interpolação N1, N2, ...,Nn geralmente são polinômios mas, em alguns tipos de
elementos, elas podem tentar capturar algum aspecto esperado da solução, como por
exemplo nos elementos singulares (trincas) ou infinitos (comportamento assintótico).

Da figura anterior pode-se perceber que:

a) quanto maior é o gradiente da função, maior é o erro da interpolação.


b) quanto mais pontos são utilizados, maior é a precisão do método.
3.4 Elemento de barra 1D
Hipóteses:
- material em regime linear
- pequenos deslocamentos
- extremidades pinadas: somente tração e compressão
- princípio de Saint-Venant
- dois nós com 2 graus de liberdade por nó
- (1,2) = numeração local

( x , y)  sistema de coordenadas global


(x, y)  sistema de coordenadas local
3.4.1 Equação do elemento de barra em coordenadas locais

Interpolação: Utilizando o método de Rayleigh-Ritz para interpolar os deslocamentos ao


longo do comprimento da barra tem-se:

u ( x )  u1 N1 ( x )  u 2 N 2 ( x )

onde as funções N1 e N2 são funções de interpolação. As condições que devem ser


aplicadas a N1 e N2 são:
1 em x  0 x
N1    N1  x   1 
1 se i  j 0 em x  L L
Ni (x j )  
0 se i  j
0 em x  0 x
N2    N2  x 
1 em x  L L
du dN dN 2  1  1  u  u1 u
Portanto:  u1 1  u 2  u1     u 2    2  
dx dx dx  L L L L

e o funcional Π associado ao elemento de barra é:


L 2 L 2
1  du  1  u  u1  1 AE
  U  W  AE   dx  W  AE  2  dx  F1u1  F2 u 2   u 2  u1  2  F1u1  F2 u 2
2 0
dx  2 0
L  2 L

Pelo teorema do mínimo do funcional Π , a equação de equilíbrio do elemento de barra


considerando pequenos deslocamentos é:
 AE  1 0 - 1 0  u1   F1 
0   u1  u 2   F1  0 AE  1 - 1  u   F   0 0 0 0  v   
u1 L 1
 1 AE    1 0 
      
L - 1 1  u 2   F2   
 AE L - 1 0 1 0 u 2  F2 
0   u 2  u1   F2  0     
u 2 L  0 0 0 0  v2   0 
 K  X   F
e e e

Finalmente, comparando com a equação do elemento de mola, podemos obter a matriz


de rigidez do elemento de barra no sistema de coordenadas global:
 m2 mn - m 2 - mn 
 
AE  mn n 2 - mn - n 2 
 Ke   2
L - m - mn m 2 mn 
 2 2 
 - mn - n mn n 
3.5 Exemplo
Para a estrutura abaixo, considere A.E = 5x106 N para as barras e K = 0.5 kN/mm. Determine:
a) os arranjos de dados ID, IEN e LM
b) a matriz de propriedades dos elementos PROP
c) as matrizes de rigidez dos elementos e a matriz de rigidez global por sobreposição
d) verifique que o sistema elástico é estável e possui apenas uma posição de equilíbrio
e) resolva para {X}α e {F}β e verifique a condição de equilíbrio
f) determine a força de tração/compressão atuando no elemento 2
g) assumindo E = 70GPa e σe = 300 MPa, calcule o coeficiente de segurança para o elemento 4
Solução:

1. Arranjos de dados ID, IEN e LM:


Começamos por ID. A numeração dos GL´s deve se iniciar pelos GL´s desconhecidos .
Observe que, neste problema, n=10 , α=6 e β= 4.
2. Matriz de propriedades dos elementos PROP:

3. Matrizes dos elementos de barra e mola:


 2.78 0 - 2.78 0  3.61 2.08 - 3.61 - 2.08
 0 0 0 0 kN  2.08 1.20 - 2.08 - 1.20
 K 1    K 2    kN
- 2.78 0 2.78 0 mm  - 3.61 - 2.08 3.61 2.08  mm
   
 0 0 0 0  - 2.08 - 1.20 2.08 1.20 
 3.61 - 2.08 - 3.61 2.08   3.61 2.08 - 3.61 - 2.08
- 2.08 1.20 2.08 - 1.20  2.08 1.20 - 2.08 - 1.20
 K 4    kN  K 4    kN
 - 3.61 2.08 3.61 - 2.08 mm  - 3.61 - 2.08 3.61 2.08  mm
   
 2.08 - 1.20 - 2.08 1.20   - 2.08 - 1.20 2.08 1.20 
0 0 0 0   0.5 0 - 0.5 0
0 0.5 0 - 0.5 kN  0 0 0 0 kN
 K5    K5  
0 0 0 0  mm - 0.5 0 0.5 0 mm
   
0 - 0.5 0 0.5   0 0 0 0
n el

4. Assembly:  K  :   K  e
e 1

 10.83 2.08 - 3.61  2.08  3.61 2.08  3.61  2.08 0 0  x1  0


 2.08 3.60  2.08  1.20 2.08  1.20  2.08  1.20 0 0 x  0
  2  
  3.61  2.08 6.39 2.08  2.78 0 0 0 0 0  x3  0
     
 2.08  1.20 2.08 1.20 0 0 0 0 0 0  x4   6 
  3.61 2.08  2.78 0 6.89  2.08 0 0  0.5 0  x 5   0 
     
 2.08  1.20 0 0  2.08 1.70 0  0.5 0 0  x6   2 
  3.61  2.08 0 0 0 0 3.61 2.08 0 0 0  F7 
     
 2.08  1.20 0 0 0  0.5 2.08 1.70 0 0 0  F8 
 0 0 0 0  0.5 0 0 0 0.5 0  4  F 
     9
 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0  0   F10 

5. Solução para {X}α:  K    X    F    K    X 

 10.83 2.08 - 3.61  2.08  3.61 2.08   x1   0    3.61  2.08 0 0


 2.08 3. 60  2.08  1 . 20 2 .08  1. 20  x   0   2.08  1.20 0 0  0 
   2   
 - 3.61  2.08 6.39 2.08  2.78 0   x 3   0   0 0 0 0  0 
        
 2.08  1.20 2.08 1.20 0 0   x 4   6   0 0 0 0   4 
  3.61 2.08  2.78 0 6.89  2.08 x 5   0   0 0  0.5 0  0 
      
 2.08  1.20 0 0  2.08 1.70  x 6   2  0  0.5 0 0
Ou seja:
 10.83 2.08 - 3.61  2.08  3.61 2.08   x1   0   x1   8.06 
 2.08 3. 60  2 . 08  1 .20 2 .08  1. 20  x   0  x    18.96 
    
2  2  
 - 3.61  2.08 6.39 2.08  2.78 0   x 3   0   x 3   20.39 
       X     
  2 .08  1 . 20 2. 08 1 .20 0 0 x
   
4  6 x
  
4  45 . 32 
  3.61 2.08  2.78 0 6.89  2.08  x 5   2  x 5   16.66 
        
 2.08  1.20 0 0  2.08 1.70  x 6   2 x 6    4.03 
det  K     14.62  solução única

6. Solução para {F}β :  F   K     X    K   X 


 8.06 
 F7    3.61  2.08 0 0 0 0    18.96   3.61 2.08 0 0  0   10.33 
 F   2.08  1.20 0 0 0  0.5  20.39  2.08 1.70 0 0  0   8 
 F    8        
 F9   0 0 0 0  0.5 0   45.32  0 0 0.5 0  4  10.33
F10   0 0 0 0 0

0   16.66   0

0 0

0  0   0 
 
  4.03 

F X  0  F7  F1  F3  F5  F9  0  10.33 0  0  0  10.33  0 (ok)

F Y  0  F8  F2  F4  F6  F10  0  8  0  6  2  0  0 (ok)
7. Forças atuando no elemento 2:
 x1   8.06   3.61 2.08 - 3.61 - 2.08  8.06   10.32 
x    18.96   2.08 1.20 - 2.08 - 1.20   18.96   5.99 
 2       
 X 2      mm   F 2   K  2  X 2    kN
x
 3  20. 39   - 3.61 - 2.08 3.61 2.08   20.39    10 .32 
x 4   45.32  
- 2.08 - 1.20 2.08 1.20   45.32   5.99 
 m n 0 0  0.866 0.5 0 0   11 .93 
 n m 0 0    0.5 0.866 0 0   0 
 T 2       F 2   T  2  F   
kN
 0 0 m n  0 0 0.866 0.5  2
 11 .93
     0 
 0 0  n m  0 0  0.5 0.866

8. tensão normal atuando no elemento 4:


x 7   0  0.866 0.5 0 0  0   0 
x   0    0.5 0.866 0 0  0   0 
 8       
 X 4      mm   X 4   T  4  X 4    mm
x
 1  8 . 06   0 0 0. 866 0 .5   8. 06    2. 5 
 x1   18.96  
 0 0  0.5 0.866  18.96  20.5

u u 2  u1  2.5  0
    0.0024    E  70000x   0.0024  168.6 MPa
L L 1039

e 300  2.5  0
n    1.8
 168.6 1039
3.6 Exercício
Para a estrutura abaixo, considere F = 3kN, L = 1.5m, A.E = 5x106 N para as barras e K = 0.5 kN/mm. Determine:

a) os arranjos de dados ID, IEN e LM


b) a matriz de propriedades dos elementos PROP
c) as matrizes de rigidez dos elementos e a matriz de rigidez global por sobreposição
d) verifique que o sistema elástico é estável e possui apenas uma posição de equilíbrio
e) resolva para {X}α e {F}β e verifique a condição de equilíbrio
f) determine a força de tração/compressão atuando no elemento 2
g) assumindo E = 70GPa e σe = 300 MPa, calcule o coeficiente de segurança para o elemento 4
h) plote a geometria deformada

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