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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


COORDENADORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MORFOLOGIA URBANA
Professora: Thereza Carvalho dos Santos

RACIONALISTAS
GIANFRANCO CANIGGIA

Lianna Calixto Nogueira


Michele Abuche Coyunji
2º Semestre de 2007.
Leitura das estruturas da edificação
A edificação como determinação histórica
(espaço-temporal) do processo tipológico, de
matrizes elementares a derivações complexas

Caniggia considera a edificação como


determinação histórica (espaço-temporal) do
processo tipológico, onde os objetos são
elementos únicos que ocupam um lugar físico.

Propõe a leitura espacial considerando o


espaço como um sistema global de
aglomeração, através da reconstrução do
processo de formação do tipo e sua matriz
elemental, assim como as mudanças ocorridas
no tipo ao longo do tempo.
Os objetos edificados são
copresentes, pois se encontram em um
mesmo contexto temporal.

Os objetos são produto da


experiência e da cultura, e passagem dos
diferentes momentos históricos. A leitura
é uma relação de síntese entre sujeito-
leitor e objeto-lido.

Os objetos são compostos pela união


de vários elementos, formando um
organismo, onde cada elemento constitui
em si um organismo em menor escala.
Traços formativos crítico-operativos da
evolução da edificação em quatro escalas
concorrentes de dimensões graduais,
coincidentes com quatro momentos-fase de
conhecimento progressivo do ambiente antrópico

Existem tipos de edificação de base,


resultantes de uma troca no conceito de
casa.

A correlação entre diferentes tipos de


diversas épocas resulta em outros tipos,
conformando a lei de duplicação sucessiva.

Tem-se as casa em fileira e casas com


pátio.
A: casa em linha Romana do final do
século XIX, B: casa em linha
A:reconstrução gráfica da casa em genovesa de meados do século XIX.
fileira florentina, e B: reconstrução
gráfica da casa em linha com uma
casa por piso decorrente da união
das casas em fileira.
Em muitos casos as transformações dos
tipos antigos resultam em adições, permitindo a
identificação do tipo vigente em determinada
época e as modificações decorrentes ao longo do
tempo.

O processo tipológico que levou a


transformação da casa em fileira para casa em
linha pode ser reconstruído a partir das
mudanças do conceito de casa, nas alterações
decorrentes dos avanços técnicos, que junto a lei
de duplicação leva a repetição de um tipo
anterior ou partes deste, duplicando o tipo base,
e, mesmo, a casa como células superpostas,
configurando unidades multifamiliares.

O tipo base da unidade unifamiliar atua como


matriz elemental da unidade multifamiliar e,
também é constituído pela duplicação de tipos
anteriores.
A: Tipos de base e B, C e D, duplicações sucessivas
rilevati levantadas na Itália entre os anos 1940 a 1944.
Sugere a leitura da
modularidade das
fachadas, identificando
as células elementares.

A edificação de base
é condicionada por tipos
de base, em menor
incidência da
personalização do
produto da edificação,
enquanto que as
edificações
especializadas são
personalizadas e
condicionadas por um
tipo decorrente de um
processo tipológico
específico.

Florença, Roma e Gênova:


reconstrução esquemática das
principais trocas do tempo nas
três zonas comparadas.
A: Roma, exemplos de casas em fileira unifamiliares e de casa de
fusão em linha, com uma habitação por piso. B: Eleusis,
desenvolvimento progressivo do Telesterio.
Variantes sincrônicas decorrentes da orientação solar característica
das casas com pátio.
Aglomerações como
determinação de tecidos típicos
Os edifícios se encontram agregados
constituindo uma aglomeração. Nesse contexto,
o tecido urbano é formado pela reunião de leis de
formação e categorias tipológicas, formando
tecidos base e tecidos especializados.

As tipologias edificatórias apresentam


elementos para constituição dos tecidos, onde a
disposição das edificações e sua correlação com
as demais constituem um trajeto, decorrentes de
um processo histórico onde tipos de edificações
semelhantes, modulares, conformam
aglomerações. Cada tipo edificatório corresponde
à formação de um trajeto.
Quando os trajetos são anteriores às
edificações esses são denominados de trajeto
matriz, que origina edificações em trajeto
matriz. As características do trajeto matriz são
independentes do uso das edificações em suas
margens.

Os trajetos que decorrem da previsão da


edificação de suas margens são denominados
trajeto de implantação de edificação, sendo
ortogonais ao trajeto matriz que os originam.
Há, ainda, os trajetos de união entre trajetos de
implantação.

O desenvolvimento de aglomerações forma


os bairros, e o tecido base é formado por
edificações de base, assim como trajetos de
implantação de edificações.
O trajeto de reestruturação é
desenvolvido após o estabelecimento da
aglomeração.

A dialética entre os tempos de


formação dos tecidos se encontra na lei
de duplicações sucessivas expressa nos
tipos de edificações.

As edificações de um trajeto são


duplicadas em faixas simetricamente em
relação ao seu eixo.
Modelos de processos de formação de tecido urbano. A: Edificação em trajeto
matriz, B: edificação em trajetos de implantação de edificação, C1:
edificação em trajeto de união entre trajetos de implantação com posterior
formação de prolongamento dos trajetos de implantação, C2: formação dos
trajetos de união entre trajetos de implantação posteriores ao prolongamento
dos trajetos de implantação. D: formação de trajeto de reestruturação, E1 e
E2: edificação em trajeto matriz e os respectivos trajetos de implantação, de
intercessão dos trajetos simples já existentes.F1 e F2: edificação em trajetos
matriz e os respectivos trajetos de implantação, em caso de bifurcação de
um trajeto anterior simples. G1, G2 e G3: edificação em trajeto matriz e
progressivo nascimento de trajeto de implantação em zona de forte declive.
A1: Quarteirões formados pela progressiva edificação desde o
trajeto matriz, trajeto de implantação e de união. A2: formação de
tecidos de densificação para reutilização das faixas das margens.
B e C: comportamento das faixas de um trajeto matriz e de um
trajeto de implantação de edificação em densificação completa
A: esquemas de quarteirões, o primeiro obtido por contraposição
entre trajetos edificados progressivos e o segundo por adoção do
tipo de edificação geminada com quatro fachadas homogêneas. B:
Lübeck, parcelamento por edificações geminadas com
contraposição entre trajeto matriz, trajeto de implantação e
trajeto de união.
Exemplos de tecidos. A:
Florença, Via Pietrapiana.
Trajeto matriz e os respectivos
trajetos de implantação de
edificação ortogonais, por
interferência das direções
anteriores. B: Florença, Borgo
Pinti. Exemplo de trajeto matriz:
a posição tangente a
aglomeração anterior a
confluência da Via Pietraiana
impediram a formação de
trajeto de implantação de
edificação. C: Florença, Via S.
Zanobi. D: Exemplo de trajeto
de implantação de edificação
derivado da matriz Via Guelfa.
E: Florença: Via dell’ Anguillara
e Borgo de’ Greci. Trajetos de
reestruturação abertos em
tecido implantado sobre as
estruturas do anfiteatro
romano. F: Roma, Via Giulia.
Trajeto de reestruturação
aberto durante o Renascimento,
no centro as edificações
geminadas das margens do
Tíber. G e H: Gênova, Via Santo
Agostino e Via XXV Aprile,
exemplos de trajetos de
reestruturação.
2. 2.3 Or gan ismo de asse nta men to e
org an ismo urb ano co mo
dete rmina çã o de co mun icaç õe s
tí pi cas en tr e ag lomera çõ es.
Aglomeração x Organismo
 
Ambos os termos são definidos como um
conjunto de edifícios, porém para distinguí-
los, nos atemos a diferentes enfoques, no
sentido de julgar a aglomeração e o seu
tecido como um conjunto de construções,
com especial atenção as suas leis de
formação em série, relacionando a
modularidade e repetitividade. Já o termo
organismo, é a hierarquia de partes
complementares e interfuncionais, com
atribuições específicas indispensáveis e
determinantes de cada parte do todo.
Poligno a Maré (Bari).
A: Alçado dos muros
da aglomeração antiga.
Em preto, os tecidos do
muro objeto de
reconstrução. B e C:
Onde se destaca o tipo
de “sustrato domus”
elemental em três
variantes sincrônicas
decorrentes da iso-
orientação solar, e as
conseqüentes
diferenças nas
variações típicas do
tecido urbano
medieval.
Assentamento x Urbano

 
Assentamento se caracteriza por um
conjunto de casas (viviendas) que não
têm a função comercial, apenas de
abrigo, moradia. Já o termo urbano, se
define por um conjunto de vivendas a
qual tenha se desenvolvido um conjunto
de atividades manufatureiras e
comerciais, caracterizando um sistema
de serviços.
A: esquema reconstrutivo
da expansão urbana em
burgos, representativa de
um núcleo de
assentamento elemental.
B e C: Paris,
transformações do tecido
urbano um uma situação
polar especial. A
influência da Catedral de
Notre Dame modifica em
fases sucessivas a
ocupação dos arredores.
Exemplos de
assentamento em
montanha no valle
de Carargna. A e
B: casas sazonais
subcelulares nas
margens dos
pastos comuns,
sem área de
permanência
individual; C e D:
progressiva
consolidação dos
assentamentos e
respectiva
implantação de
áreas de
permanência com
tios celulares e
bicelulares.
Núcleo Protourbano x Núcleo
Urbano
O núcleo Protourbano se caracteriza por um
complexo de edifícios habitados e
destinados a atividades produtivas
secundárias e terciárias, ligadas a um raio de
ação que compreende além do território, os
assentamento circundantes. Já Núcleo
Urbano é definido como um complexo de
maior raio de ação, que compreende as áreas
de influência de vários núcleos protourbanos.
Cabe chamarmos de pequena cidade até a
metrópole.
Nodalidade x Antinodalidade

Se referem ao lugar onde surge a atividade,


com referências a periferia e centro
respectivamente. É centro, ou cabeça,
aquele que surge primeiro. Se um castelo
surge após um burgo, este é cabeça. Se o
oposto ocorre, ou seja, se o burgo nasce
e depois o castelo, o castelo vem a ser
cauda, ou ainda periferia.
A: Fachadas de
quarteirões florentinos:
os edifícios em de
esquina podem,
aumentar, depois de um
certo tempo ou diminuir
segundo nodalidades ou
antinodalidades da
interseção. A edificação
espacializada antinodal
pode se transformar em
nodal (B: Igreja de S.
Lorenzo) absorvida pelo
crescimento urbano
permanecendo antinodal
(C: Frediano, Convento
dos Camaldurenses se
mantém em posição
periférica.)
Esquema de hierarquias
alternadas produzidas por
trajetos paralelos, em
uma (A) ou em duas
direções (B).Modelo de
comportamento de um
supra-módulo urbano: no
ângulo inferior esquerdo
apresenta máxima
nodalidade, e no superior
direito máxima anti-
nodalidade e no centro, a
interseção com a
nodalidade intermediária.
MÓDULOS

Cada organismo pode ser lido como um


módulo, porém, não deixa de ter sua dialética
interna entre centro e periferia.

A associação de vários organismos pode se


desenvolver de diferentes maneiras, entre elas:
1-     por crescimento em ortogonais,
2-     por interferência de várias direções oblíquas ou;
3-     das duas formas acima juntamente.

Porém, de qualquer forma, sempre haverá um centro


e uma periferia.
Modelo de duplicações
modulares do organismo
urbano. Desde as dimensões
iniciais (1) podem ser
formadas as duplicações
baricentricas (2) por adições
de médio módulo por cada
lado (3) ou por adições de
módulos inteiros. Em (3) se
produz a formação de sub-
centros relativamente
autônomos (Florença). Em
(4,5,6 e 7) se representam
ampliações basicamente
mono-direcionais, em (8)
biodirecionais não simétricas.
Os casos (9 e 10)
representam cidades
condicionadas por uma ou
duas nodalidades lineares:
costas, lagos.
Eixo centralizador x Eixo divisório

Na cidade, se a rua é importante para alguma


atribuição específica, como por exemplo, ter
locais destinados ao comércio, ela será
preferencialmente mais larga. As ruas paralelas
adjacentes, terão uma redução brusca na sua
largura, embora ainda tenham alguma função
complementar à primeira. Então, o eixo
centralizador, é a parte comercial do organismo
urbano, enquanto essas ruas complementares,
fazem parte do eixo divisório, formado pelas
margens responsáveis pelo tráfico. Entre esses
dois eixos, ainda podemos citar ruas com papéis
intermediários.
Lei de duplicações sucessivas

Se aplica quando um módulo não é único e sim


componente se um organismo mais amplo e
portanto não constitui um núcleo de
assentamento urbano.A célula elemental vem a
ser o primeiro tipo base e logo elemento
componente do bairro que será um tecido de
quarteirões. Isso pode ser exemplificado ao
compararmos cada módulo a uma família. O
homem se reconhece dentro da família mas se
comparado à nação italiana, alemão ou
portuguesa, vamos nos fazer ausentes. Isso
porque sobre nós existe uma série de
supermódulos que multiplicados chegarão a
população mundial, porém ainda muito distantes
do módulo família. Assim o são, o bairro, a
cidade, o quarteirão, a província....
As paróquias

Cada paróquia teria um raio de ação,


correspondente a uma subdivisão religiosa-
administrativa da cidade. A essência desse
serviço religioso é fundamental, não só para
fins espirituais , mas também para fins
assistenciais, administrativos e escolar-
educativos. Porém esse serviço tem perdido
o seu papel, passando para outros tipos
especializados como escolas, centros
administrativos, centros assistenciais etc;
sofrendo uma deterioração quantitativa e
qualitativa, aumentando com esses centros o
seu raio de ação.
Em Como, havia a distribuição da cidade
em nove paróquias, distribuídas segundo um
módulo de 200 metros. A situação atual
mostra a permanência de quatro paróquias
separadas por uns 400 metros , onde as
outras igrejas têm sido demolidas e
destinadas a outros usos.
A: Como, situação
das parroquias da
primeira metade do
século XVIII e
situação atual. B:
Gênova, trecho da
Via XX Settembre
entre plaza Verdi e
Porta Monumentale.
Organismo territorial como determinação
de comunicações típicas entre
organismos públicos, de assentamento,
de produção e urbanos
A morfologia é composta por trajetos e
áreas de produção, onde assentamentos e
núcleos urbanos derivam de uma estrutura
de produção anterior.

Há 4 fases de formação territorial: uma


primeira fase de trajetos, uma segunda de
assentamento, uma terceira de áreas de
produção e uma quarta de núcleos proto-
urbanos e urbanos.
Após a terceira fase tem-se um ciclo de
consolidação, que é o ciclo de recuperação
da implantação que engloba um sistema de
fenômenos que tendem a buscar uma
recuperação da estrutura anterior,
decorrente das próprias condições naturais
do vale.

A quarta etapa é o ciclo de


reestruturação, também denominado de
consolidação ou recuperação, que se trata
da reestruturação das estruturas de fundos
de vales.
Exemplos de reconstrução das quatro fases do ciclo de implantação:
territórios de Florença, Chiavari e Pienza.
O tipo territorial é um conceito de
território onde cada indivíduo pertence a
uma época e um lugar conformando um modo
de compreensão de determinado lugar
identificando-o como lugar de moradia e
produção, reconhecendo outros locais como
de outras pessoas e, logo, como locais de
trocas e encontro com outras pessoas e
entidades territoriais.

A formação gradual de um processo


tipológico de território deve-se a noção de
território matriz e tipo territorial de base.

Tipo territorial de base considera a parte


de um território ocupada por uma atividade
familiar, apresentando um trajeto de acesso.
Uma área cultural é composta por áreas
cujo relevo natural promova uma autonomia
em relação a áreas circundantes,
estabelecendo relações entre esses
habitantes e seus vizinhos de modo que seus
traços culturais sejam característicos e
distintos.

O processo tipológico territorial é


produto de uma troca progressiva entre os
tipos territoriais, como sistema de leis de
transformação progressiva de um tipo
anterior em um posterior.

Um território se estrutura em um ciclo de


implantação e se diversifica através da
correlação e hierarquia dos componentes,
dando seqüência a um ciclo de consolidação.
Modularidade da
distribuição dos organismos
urbanos. A: relações entre
Milão e as cidades
venezianas. B: relações
entre Roma e as cidades
venezianas. C: localização
das principais cidades da
Itália central e setentrional.
A: Transformação das
axialidades territoriais:
A: eixos centralizadores
do Império Romano
polarizados sobre Roma
no século I D. C. B: eixos
divisórios entre as áreas
otomana, franca e
bizantina no século VIII.
Considerações finais
Caniggia propõe a leitura morfológica a partir
do objeto, seu tipo, seu uso e as mudanças
ocorridas ao longo da história, sendo, portanto,
expressão cultural.

Considera a relação do objeto com o tecido


urbano, compondo um sistema, onde os objetos
são subsistemas compostos por módulos
repetidos, o que também se dá na malha urbana.

Junto à análise tipológica das edificações


estabelece uma análise dos trajetos que
compõem a forma urbana e a relação entre estes
e as edificações.
Dentre os elementos responsáveis pela
conformação da paisagem urbana cita a
disposição de casas em fileiras e as
transformações tipológicas, que ocorrem através
da duplicação, o que expressa as mudanças das
demandas e traços culturais através do tempo.

Caniggia propõe uma leitura das edificações


através da identificação de suas células
elementares, visto que, como as edificações, os
trajetos também apresentam tipologias,
constituindo aglomerações, e logo, bairros.

Constata-se que os trajetos partem de um


trajeto matriz, que origina os demais, e também
são classificados de acordo com a disposição
edificatória, logo correlação entre os tipos de
tecidos e a temporalidade da formação destes
configura a forma urbana.
Referência

CANIGGIA, Gianfranco. Tipologia de La


Edificacion: Estructura del Espacio
Antropico. Trad. Margarita García Galán.
Madri: Celeste Ediciones, 1995. 192 p.
Tradução de: Lectura dell’ Edilizia di Base.

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